Paternidade continuada

Tornar-se pai é fácil, ser pai é difícil. Todo filho é prova da existência de um pai biológico; nem todo pai é prova de si mesmo como Pai com “P” maiúsculo. Um lar pode ser uma prisão, um dissimulado cárcere privado vigiado por um pai autoritário. Mesmo que seja esplêndida, dourada, uma gaiola inibe o voo do “Pássaro Cativo”, rouba-lhe a liberdade. Para o poeta Olavo Bilac, Deus concedeu por gaiola a imensidade. Voar! Voar!

Não basta colocar filho no mundo. Ou, na versão mais conhecida deste recado: “Quem pariu Mateus que o embale”. Sem aprisioná-lo. Principalmente hoje em dia, em que o mundo se tornou uma aldeia global. O ser humano nasce criança, palavra associada a vir a ser. Para isso nasceu, para isso veio ao mundo ou foi posto no mundo. Ser pai é promover a travessia, para o existir, de quem não era, não existia. Ser pai é ser responsável e sentir-se corresponsabilizado por uma dinastia. Os Maias, os Carvalhos, os Oliveiras. Não basta ser pai. Tem que participar.

Sendo pai, no gerúndio, protagoniza o que está acontecendo. Participa do fluxo contínuo de evolução. Lembrando S. Paulo, mesmo fazendo o que não queremos e deixando de fazer o que queremos. Repto constante, busca de completude. “A tarefa de ser completo nunca termina.” É o fim da missão que é dada por finalizada. De novo, o apóstolo das gentes, Paulo, após combater o bom combate, conservou a fé, cumpriu a própria missão. Com humano êxito.

Com os humanos defeitos.

Na alma de cada pai, desde os mais letrados aos menos letrados, desde os mais ricos aos mais pobres de bens materiais, deve pulsar o anseio de tornar realidade a felicidade dos filhos. Não se trata de lição de moral. Imoral é não ser feliz e não fazer os filhos felizes. Sou fã do nome de minha neta, Beatriz, que significa aquela que faz os outros felizes. “Sim, me leva para sempre Beatriz / Me ensina a não andar com os pés no chão / Pra sempre é sempre por um triz / Ai, diz...”

[email protected]

 

 

Comentários