Para repensar

Editorial 

Um ano que vai ficar marcado na vida de muitos. Diferente do que muita gente fala, 2020 não é um ano para se esquecer, mas, sim, um ano para ser lembrado. 2020 é um ano que fez a humanidade se curvar ao invisível, em que a humanidade teve que repensar seu modo de viver, consumir, ver a vida e de rever as suas escolhas. Poético? Talvez fosse, se vidas não tivessem sido perdidas. Parar tudo, repensar e avaliar custou muito, para muitos. No Brasil, custou mais de 18 mil vidas, e com essas perdas foi-se embora a poesia. O mundo parou, a humanidade se curvou ao invisível. O coronavírus trouxe medo, ansiedade, desespero e obrigou os seres humanos a repensarem, e como diziam os antigos: “se foi não foi pelo amor, foi pela dor”. E como doeu, como dói. 

Em Divinópolis a vida aos poucos volta à normalidade. O comércio funcionando em escala, em novo horário, o mercado central voltando a funcionar, e, assim, a vida vai tentando tomar a forma anterior, porém com algo a mais: o medo. Sim. Voltar à normalidade não significa que a humanidade estará livre do seu inimigo invisível. Os cuidados continuarão aí. Lavar as mãos constantemente, usar máscara e álcool em gel. Definitivamente, 2020 não é para ser esquecido. É para ser lembrado, pois trouxe diversos ensinamentos. O aumento da violência doméstica e do abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes mostrou o quão frágil são as nossas políticas públicas. O desespero da população por ver seu comércio fechado mostrou o quão frágil é a nossa economia. A falta de leitos em muitos estados brasileiros para atender o povo mostrou o quão frágil é o nosso sistema público de saúde. A população precisa cobrar, precisa saber cobrar. 

Definitivamente, 2020 é um ano para ser lembrado, pois foi ele que mostrou onde o ser humano mais falha: na falta de empatia. Pela primeira vez, em 50 anos, em meio século, Divinópolis não terá a grandiosa Divinaexpo. O vazio no coração bate ao pensar nisso. A vida mudou, as prioridades mudaram. Pessoas com 70, 75 anos, que acompanham de perto a festa, pela primeira vez, não verão uma festa maravilhosa, que enche os corações dos divinopolitanos de orgulho em seu mês de origem, maio que entra para junho. A expectativa é que os 50 anos da festa sejam finalmente comemorados em setembro. Até lá, muita coisa ainda deve acontecer. Tudo mudou e muita coisa ainda vai mudar. O anseio pela normalidade talvez faça com que a população dê mais valor à vida, aos momentos vividos ao lado de amigos, de familiares e até mesmo sozinhos. 

Alguns tentam negar a realidade, talvez por ela ser dura demais para ser enfrentada, mas a verdade é que ela bateu à nossa porta com uma força nunca antes vista. A humanidade se curvou ao invisível e terá apenas duas alternativas: ou sair mais forte e mais consciente de tudo isso, ou permanecer na ignorância e viver em um ciclo sem fim. A escolha será exclusiva das pessoas. Ansiamos pela normalidade, pelo direito de ir e vir, por respirar livremente, por abraçar, mas já dizia o poeta “nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”. Tudo mudou para que a humanidade repense e faça florescer em si o que há de melhor. Só por meio da empatia, da humildade e da paciência, o ser que se diz humano terá sua normalidade de volta, assim como deseja. 

 

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