Pandemia expõe mais vulneráveis

Em transmissão online, secretário voltou a destacar importância da contribuição da população

Matheus Augusto

Minas Gerais deve vivenciar o pico da pandemia causada pelo coronavírus nas próximas duas semanas, conforme prevê a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). Divinópolis, temendo um possível agravamento da situação, determinou a suspensão de novas flexibilizações pelos próximos 14 dias. Durante esse período, os números continuarão a ser avaliados.

Sobre o “Minas Consciente”, a Prefeitura informou que ainda aguarda uma resposta do governo de Minas sobre a aceitação da matriz municipal, apresentada no último dia 19. No programa estadual, Divinópolis, por estar na região Oeste, é classificada como onda verde, onde a orientação é para o funcionamento de apenas serviços essenciais.

Dados

A cidade contava, até ontem, com 3.423 casos notificados. Desses, 637 foram testados: 377 confirmados (281 recuperados), 251 descartados e nove ainda em análise. A taxa de ocupação das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) está em 46,8%. Dos 67 pacientes internados, 24 apresentam sintomas compatíveis à covid-19.

Isolamento

Para reforçar a importância do papel da população do combate à pandemia, o secretário de Saúde, Amarildo Sousa, realizou uma transmissão virtual na última segunda-feira com o enfermeiro e professor da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), Alexandre Ernesto Silva. A próxima conversa do secretário será com a superintendente do Complexo de Saúde São João de Deus, Elis Regina Guimarães, hoje, às 9h, para tratar sobre a assistência hospitalar durante a pandemia.

Estabilização

Os dados, segundo o secretário de Saúde, ainda significam um estado de alerta. Um sinal de estabilização do cenário na cidade, seria, por exemplo, que o ritmo de contágio estivesse em 0,8 - atualmente em 1,2.

Amarildo citou que, desde o primeiro caso na cidade, a secretaria tem se esforçado para cumprir seu papel e garantir assistência aos necessitados. Além da compra de máscaras, álcool em gel e a higienização de espaços públicos, como pontos de ônibus, a Prefeitura se viu obrigada a ampliar sua rede hospitalar.

— Nós não tínhamos nenhum leito de covid, por isso foi preciso iniciar o isolamento para que a nossa rede hospitalar, tanto a privada quanto do SUS, incluindo a UPA, se preparasse para o combate à pandemia — destacou.

A pandemia, no entanto, para ser superada, necessita do envolvimento dos cidadãos. Para o professor da UFSJ, Alexandre Ernesto, a situação é imprevisível e mesmo a ciência não pode fornecer todas as respostas no momento, tendo em vista a “condição nova do vírus”.

— Não tem regra fechada, tem uma regra conforme o comportamento do vírus no local, que depende muito, quase exclusivamente, do comportamento do povo — ressaltou.

Alexandre ainda contou que, como profissional de saúde, é questionado por comerciantes se a Prefeitura não está demorando a abrir, e por outros setores da população se não está havendo demasiadas flexibilização. Segundo ele, mesmo com a flexibilização, os indicadores podem se manter estáveis.

— Por mais que flexibilize ou não a abertura de locais de trabalho, de comércio, de templos religiosos, de espaços de lazer, o que vai mandar no comportamento do vírus no local e do RT, a taxa de transmissibilidade, é o comportamento do povo — explica.

Vulnerabilidade física

Sobre o grupo de risco, o enfermeiro citou um caso recente.

— Em Divinópolis mesmo, na semana passada, a gente perdeu um médico, que era daqui mas morava no Amapá; um menino fora do comum, gente boa, atleta, que veio a falecer. Estava na linha de frente. A gente pode ter no nosso município gente que é atleta, que acha que isso não é problema, que ele vai ter só uma gripe, mas o problema é a sua responsabilidade de não levar isso para o seu familiar que é do grupo de risco, do idoso seu vizinho — frisou.

Vulnerabilidade econômica

Desde o fechamento do comércio, os empresários têm buscado conciliar com a Prefeitura a flexibilização para o funcionamento da economia. Porém nem todos parecem comprometidos com a vida. Amarildo contou que, além da interrupção de três jogos de futebol e festas neste fim de semana, a Vigilância Sanitária, recentemente, teve que intervir em um evento social.

— No meio da semana tivemos uma festa de empresários, comerciantes, esses mesmos que pedem a flexibilização para sua loja ficar aberta. Eu me pergunto qual a responsabilidade deles com o pobre que não tem opção e tem que pegar ônibus para ir trabalhar na sua loja, na sua fábrica — refletiu.

O secretário ainda destacou a importância de não generalizar o caso e agradeceu a contribuição de todos os empresários que têm ajudado a secretaria no enfrentamento da crise. Questionado sobre um possível fechamento do comércio, ele não descartou a possibilidade.

— Enquanto durar a pandemia, enquanto estivermos com nosso índice de isolamento caindo e o de RT subindo, essa possibilidade se demonstra real. (...) se os números de ocupação se descontrolam e vão, por exemplo, para acima de 90%, não vai nos restar outra alternativa senão fechar — falou.

Vulnerabilidade social

Sobre a questão, o enfermeiro Alexandre Ernesto falou sobre os trabalhos sociais que realiza, inclusive em favelas do país, onde, com mais dificuldades de acesso aos serviços de saúde, o comportamento das pessoas é melhor do que nos bairros mais nobres.

— As pessoas falam: “Agora nós estamos no mesmo barco”. Nós não estamos no mesmo barco, nós estamos no mesmo mar, mas temos barcos totalmente diferentes. Temos grandes lanchas e navios decorados e nós temos alguns que estão com a porta boiando no mar, (...) em muito locais as pessoas estão morrendo porque os locais de porta de entrada superlotaram e elas não têm condições de pagar para serem hospitalizadas. É uma pandemia que quem mais morre é pobre, que não tem acesso — exemplificou.

O abismo social inclusive favorece a contaminação dos mais pobres.

— É muito fácil quando você sai de uma festa e entra pro seu quarto em uma casa enorme e você convive com três pessoas. As pessoas em áreas periféricas, se você pedir o isolamento das que tiveram contato com alguém contaminado, elas voltam pra casa de, às vezes, três quatro cômodos onde moram oito, 12 pessoas — completou o secretário de Saúde.

Região

Falando em responsabilidade para o enfrentamento da crise, Divinópolis, como polo regional de saúde, também conta com a colaboração dos municípios vizinhos que, segundo Amarildo, têm repassados orientações a seus cidadãos.

— Hoje, 100% da região têm alguma medida restritiva e de controle social no combate à pandemia — informou.

Dicas

Questionado sobre como manter a saúde mental respeitando o isolamento, Alexandre falou sobre o benefício de estabelecer uma rotina diária, com horário fixo para acordar, dormir e almoçar. Segundo ele, sem uma rotina, o indivíduo tende a ficar mais tempo deitado, comer mais e acaba apresentando um estado de fragilidade mental, com o aumento dos índices de depressão e ansiedade.

— Busque fomentar e melhorar aquilo que dá sentido à sua vida. Às vezes é a dança, o exercício físico, a oração — recomendou.

Como dica, o secretário Amarildo pediu que os moradores ajudem no combate à dengue que, até a última semana, já tinha sido confirmada em 438 pacientes neste ano.

— Se você tem esse tempo a mais, mesmo que forçado, elimine o foco da dengue de sua casa — finalizou.

 

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