Pagadores de impostos?

Editorial 

Dinheiro público? Ah, o dinheiro público! Margareth Thatcher, ex-primeira ministra da Inglaterra, disse um dia: “não existe essa coisa de dinheiro público, existe apenas o dinheiro dos pagadores de impostos”, mas isso é para inglês ver. Por aqui, nas terras tupiniquins, a conversa é outra. Impostos são para custear regalias. Nem ouse pensar na família real inglesa como geradora de despesas para o erário, pois de forma inteligente usa sua popularidade para girar a economia, gerando riquezas e divisas. Seja namoro, noivado, casamento, nascimento, batizado, qualquer evento relacionado a um membro real e eis a economia movimentando e gerando recursos.

Mas isso é lá! Por aqui a história é bem outra. E é antiga. Como não somos um povo de relembrar o passado para não repetir erros, vamos estudar história, até porque não é assim que grupos ideológicos antagônicos encerram discussões? Pois aí vai. No Brasil colonial, foi instituído que 20% do ouro em pó ou folhetas ou pepitas extraídas em Minas Gerais deveriam ser enviados diretamente à Coroa Portuguesa, porém esse 1/5 deveria ser de no mínimo 100 arrobas, sob pena de decretada a derrama, ou seja, as casas eram invadidas e os seus proprietários despojados de seus bens. E tudo isso para quê? Para custear o padrão de vida da Casa Real Portuguesa.

Em 28 de novembro de 1807, fugindo de Napoleão, a família real deixa Portugal rumo ao Brasil  e aqui chega em 22 de janeiro de 1808, com um séquito de mais de 15,70 mil pessoas, entre membros da aristocracia portuguesa (sempre sustentamos os amigos do rei), ministros, soldados e empregados diversos. 

Com a sua vinda, Portugal ficou jogada às traças e para ter aqui a boa vida que tinham além mar, foi criado, em 12 de outubro de 1808, o Banco do Brasil, quando só haviam três emissores no mundo – Suécia, Inglaterra e França. O alvará de criação do Banco do Brasil tinha três propósitos claros, sendo um deles o de socorrer as despesas do Estado. Isso mesmo!

Veio a Proclamação da República e pouca coisa mudou. Temos uma das maiores cargas tributárias do mundo e, se antes era 1/5, hodiernamente trabalhamos até dia 2 de junho somente para pagar impostos ‒ e a maior parte da arrecadação ainda é para custear uma vida de nababo de nossos líderes políticos. Que defesa dos interesses da nação que nada! Embora tenha ocorrido a Proclamação a República, a ideia de séquito não foi enterrada com o império.  Pelo contrário, em termos de comparação, na Suécia, o primeiro ministro tem direito a um serviçal em casa, enquanto nas bandas de cá, somente na residência oficial do presidente da Câmara Federal, são 48, entre cozinheiros, mordomos, motoristas, copeiros, jardineiros, sem contar as regalias no gabinete e na base política.  Mas isso não é somente na capital. Esse mal assola o país inteiro.

No Brasil, há cidades pequenas que possuem mais de 10% da população trabalhando como concursados ou comissionados nas prefeituras e câmaras municipais, o que representa que esses lugares dificilmente conseguem fazer algo em benefício da população, pois o que arrecadam está comprometido com a folha de pagamento. 

Nossa querida Cidade do Divino não fica atrás e, mesmo que o atual prefeito já tenha assumido a cidade com decreto de calamidade financeira do governo anterior, não hesitou em criar mais cargos e mais cargos. Galileu chegou a demitir vários e recontratou praticamente todos e mais alguns. A Câmara Municipal começou com cortes, tendo sido um dos primeiros a TV Câmara, que dava visibilidade aos seus atos nas reuniões. E com a  covid-19, que aliás não assusta esse povo, vieram as promessas de redução de salário e outras despesas. Mas isso para os que virão na próxima legislatura. Provocados a doar parte de seus vencimentos ainda neste mandato, não se manifestaram. Aí não! 

Século vem, século vai e nada muda! Continuamos trabalhando cada vez mais e para quê? Custear os gastos públicos que a cada dia aumentam, principalmente as regalias, a invenção de cargos comissionados com altíssimos salários, porque “se dom João VI trouxe os  seus amigos por que não posso também ter os meus por perto?”. Tudo às custas do erário. Se nos preocupa Brasília, Divinópolis idem, pois estamos inertes, assistindo nossa cidade afundando, o desespero crescendo, e a lista de “amigos do rei” não diminui, e a redução real, perceptível nos gastos públicos, fica só na promessa.  É ano eleitoral! A derrama está aí e pior do que antes, tenha certeza disso! Acha que não? Lembre-se que “Quem não aprende com o passado, está condenado a repeti-lo”.

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