Outra face da pandemia

Raimundo Bechelaine

Previa-se para ontem uma solene missa, aos pés da estátua do Cristo Redentor, no alto do Corcovado. O monumento, uma das maravilhas do mundo, é caro a todos os brasileiros. A liturgia teria um tema: “Para cada vida”, lembrando que, mais do que estatísticas ou agentes econômicos, as vidas humanas são existências pessoais, carregadas de sentido e de valores. Seria uma prece em intenção aos mortos e aos doentes acometidos pelo coronavírus, de suas famílias, dos trabalhadores da saúde e voluntários. Presidida pelo cardeal do Rio de Janeiro, a celebração teria bênção especial do papa Francisco e mensagem do presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e arcebispo de Belo Horizonte, dom Valmor Azevedo.

Porém a pandemia tem outro lado, menos visível. Segunda-feira passada, o jornal Estado de Minas trouxe entrevista com a Drª. Elke van Hoof, professora universitária em Bruxelas. Dizia ela: “A quarentena tem algumas possíveis consequências mentais. A primeira pode ser a pessoa ter a sensação de estar sobrecarregada, de não ser capaz de lidar com obrigações, ter problemas para dormir, ficar mais irritada. Se tiver uma estrutura familiar, não está sozinha. Mas, se não tiver, tudo torna-se bastante solitário. Muitos estão em quarentena há mais de dois meses, apenas com o contato social de ir ao supermercado ou conectar-se on-line. Então os sentimentos de solidão aumentaram. (...) Os números variam no mundo, mas existe o risco de a violência aumentar em casa. (...) Uma pessoa pode desenvolver qualquer sintoma. Entre eles: sentir-se ansioso, sentir pressão no peito, falta de ar, não dormir bem, ficar mais irritado ou emotivo. São respostas normais a uma situação excepcional, sinal de que o corpo e o cérebro estão tentando se adaptar. Mas quando ficar alerta? Quando a pessoa não consegue mais funcionar normalmente em sua rotina. Aí é bom procurar ajuda”.

O Brasil atinge a cifra de 60 mil mortos, com a perspectiva de que este número continuará crescendo. Nosso povo assiste desolado e inseguro à catástrofe. Infelizmente, em comparação com outros, nosso país tem um complicador a mais, que é o próprio governo central. A falta de um mínimo de decência, de liderança e coordenação dão sinais evidentes da insanidade reinante. Em vez de reunir e congregar, o governo semeia a desordem e potencializa a crise. 

Neste contexto, disseminam-se a insegurança e o desamparo. Palavras de sensatez e esperança são necessárias. Quer venham dos ritos religiosos ou das ciências que tratam da nossa mente. [email protected]

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