Os natais de hoje

Augusto Fidelis

“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz, porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado; a soberania repousa sobre seus ombros, e ele se chamará Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz.” Com estas palavras, 700 anos antes, o profeta Isaías anunciara o nascimento de Jesus, festa que ora celebramos, dois mil anos depois do ocorrido.

Há de se observar, no entanto, que desde que o mundo é mundo o ser humano é o mesmo. Independentemente da região do planeta onde resida, em qual cultura esteja inserido, em qual idioma se comunica, rico ou miserável, se branco, negro ou amarelo. Todos são movidos pelo amor ou pelo ódio, pela compaixão ou intolerância, pela inveja ou desapego, pelo ciúme ou desinteresse, pela cobiça da coisa alheia ou pelo altruísmo.

Já sua época, o profeta admoestava, assim como nos dias atuais, porque as injustiças continuam a se repetir, agora com muito mais intensidade: “Ai daqueles que fazem leis injustas e dos escribas que redigem sentenças opressivas para afastar o pobre dos tribunais e negar direitos aos fracos de meu povo para fazer das viúvas sua presa e despojar os órfãos.”

Mas, se os nossos contemporâneos são iguais àqueles que nos antecederam, que diferença há entre a celebração do Natal na atualidade e a de outrora? – perguntaria algum curioso. No nosso entendimento, a diferença está na espiritualidade. O mundo atual, com todo seu aparato tecnológico, não contribui em nada para tornar o homem e a mulher melhores do que antes. Ao contrário, a família, que é o cerne das comemorações natalinas, está totalmente desajustada, com seus membros carentes de atenção e carinho. A sombra da indiferença tenta, de todas as formas, ofuscar a luz divina que ilumina o espírito cristão.

Mais uma vez é Natal. Como tem se repetido ano a ano, também neste, a maioria das pessoas vai comer, beber, falar alto, como se estivessem todos surdos. O elevado teor de álcool no sangue, associado ao egoísmo característico dos nossos dias, impedirá a tantos de ouvir José e Maria baterem à porta, implorando um lugar no coração dos indivíduos para Jesus nascer. As celebrações serão muitas, mas vazias de sentido, sem a devida sintonia com o sagrado. O aniversariante não se sentará à mesa, pois não há lugar para ele.

A noite de Natal é feliz na sua essência, mas, ao mesmo tempo, a saudade de antigos natais sufoca a alegria que deveria ser completa, pois uma nostalgia invade a alma. E assim tudo passa. Só Deus permanece, independentemente da nossa credulidade. Feliz Natal!

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