Os mistérios e os milagres

Na Idade Média, o teatro exibia representações religiosas, como os Milagres e os Mistérios. As comédias, por sua vez, tratavam de moralidade e apresentavam farsas, sendo uma das mais célebres a Farsa do Advogado Pathelin, já no século XV. Encenavam também as soties, representações de caráter satírico. Sotie deriva de sot, em francês, que significa tolo, p. ex.: “Il est un sot”, ele é um bobo, patola.

Esse tipo de teatro, então, teve seu nascedouro em temas religiosos. A missa era o drama sacro por excelência, principalmente nos dias de festa. Eram os assim chamados Milagres. Pouco a pouco, o drama se separa do ofício sagrado. Passamos a ter peças profanas, ao pé da letra, fora do templo, campal, em praça pública. Os Milagres cedem lugar aos Mistérios, assim denominados pelos franceses e italianos. Na Grã-Bretanha datam do século XI, segundo o escritor Alexandre Herculano. A partir do séc. XIV, inclusive na Alemanha, essa modalidade de espetáculo teatral abarcava, durante vários dias, toda a história sagrada, desde a queda de Adão e Eva, no Paraíso, até a vida de Jesus Cristo e o Juízo Final.

Os Mistérios consistiam em séries de quadros ao vivo. O cenário podia ser o céu, a terra, o inferno. O drama principal era a Paixão de Cristo. Até algumas décadas passadas, nossos atores circenses costumavam representar a Paixão, na Sexta-feira Santa. Essa sexta-feira, a da Paixão, era o dia mais observado, “guardado”, culminando com a procissão do Senhor Morto. Encenada desde 1968, a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, no município do Brejo da Madre de Deus, em Pernambuco, tem hoje projeção internacional.

A Catedral de Notre-Dame de Paris, entre outras catedrais góticas, teve sua construção iniciada em 1163, na Idade Média. Foi alvo de um incêndio ocorrido em 15 de abril de 2019. A poesia, naquela época, também foi fortemente influenciada pelo clima de religiosidade: Lauda Sion, Dies Irae, Stabat mater... Dante.

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