Os grandes ausentes

Hora do almoço. Concentração de pessoas aqui e acolá, almoçando no restaurante ou em outros pontos, distraídas ou em animadas conversas sobre os mais diversos assuntos, ou caminhando em alguma direção. Parecia um dia qualquer, nada suspeito à vista. No entanto, ninguém sabe o dia.

De repente, o fim do mundo se deu para muitos, com suas vidas ceifadas pela enchente inusitada de lama. Tudo é arrastado como algo sem valor ao longo dos vales: pessoas, casas, animais e árvores. Em tempo recorde, a paisagem se torna desolada. Alguns se atiram para ajudar o próximo, outros estão aturdidos, querem entender o que se passa, mas não encontram explicação, porque tudo está acabado.

Primeiro foi em Mariana; agora a tragédia se repete em Brumadinho e não será a última, pois há, em Minas, mais de 300 barragens na mesma situação, e o rompimento será apenas uma questão de tempo, porque nada será feito para que isso seja evitado. Embora, desta vez, a Vale do Rio Doce viu ser engolidos pela lama não só os moradores da região, mas seus próprios funcionários, suas máquinas, os seus pertences.

Aos que louvam a graça de terem sido salvos e àqueles que choram seus entes queridos, arvoram-se os governos à busca dos culpados sem a intenção de encontrá-los; levanta-se à mídia, a qual é composta de órgãos privados que se apresentam como paladinos da moralidade pública, a cobrar explicações que eles mesmos têm, apesar de tê-los escondidos durante anos, devido aos seus interesses.

Tão logo a tragédia se deu em Brumadinho, como é de costume, a Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros, os voluntários e até soldados do exército de Israel se apresentaram para socorrer os feridos, recolher os mortos e consolar os desesperados. Clubes de serviço logo deram início às campanhas de água, roupas, remédios e de tudo aquilo que pode ser útil em momentos assim.

Talvez, essa tragédia tenha sido uma das maiores violações dos direitos humanos. No entanto, em meio a toda essa movimentação, ainda não vi a manifestação de certos setores, tão combativos, acostumados a levantar bandeira por causas menos nobres. Que me perdoem se eu estiver equivocado, mas onde está a ONU? A OAB? O pessoal dos direitos humanos? Onde estão as feministas? O que foi feito dos movimentos sociais? Onde estão os deputados que votaram na Assembleia contra o projeto que exigia maior rigor com relação a barragens no Estado?

Sinceramente, há um silêncio incômodo de certas entidades, de certas pessoas. Mas é preciso ter fé, não se pode matar a esperança, pois, ainda que tardia, o Brasil há de ser um país muito melhor, apesar dessa gente.

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