O 'Trump dos Negócios'

Inocêncio de Nóbrega

Chefe de Estado é uma figura simbólica, normalmente atribuída aos mandatários das mais altas funções de uma nação, perante outros povos. Nas monarquias, ela é conferida ao rei, imperador; nas democracias parlamentaristas em regra ao 1º ministro, e presidencialistas, ao presidente da República. Um chanceler também pode alcançar esse patamar. Nos regimes socialistas, o cargo pode ter o mesmo “status” de presidente do Partido Comunista. Essa hegemonia, entretanto, por vezes colide com o sistema tripartido de poder, Executivo, Legislativo e Judiciário, constitucionalmente considerados harmônicos entre si. Por que não um rodízio, a fim de não recairmos em possíveis deprimentes e constrangedoras situações, como atualmente ocorrem no Brasil?

A postura de quem ocupar a chefia de Estado é peculiar, teoricamente compatível com uma refinada formação social e cultural, pelo menos nos momentos em que representa seu país. Internamente, também, equilibrado, sem trejeitos pessoais, pois de seus bons ou maus hábitos depende a população que momentaneamente dirige. O trajar e o falar evitando o emprego de expressões e palavras chulas. Nada interfere no relaxamento emocional e físico, dentro dos padrões civilizatórios. 

Em função desse patamar, como se portavam nossos “chefes maiores” da era redemocrática? A começar por José Sarney, que se agoniava com a liturgia do cargo, enquanto Fernando Collor o conciliava com as aventuras de atleta e Itamar Franco, despretensioso engraçado. FHC, segundo a crônica de seu tempo de Planalto, quis transformar o Palácio numa lenda, esmerando-se no trocadilho e nas anedotas. Vestindo-se de casaca e gravata brancas, pelos britânicos um presidente de charme. O humor, dizia ele, servia para neutralizar as fadigas. Um presidente que gostava de rir. Lula iniciou o tom popular das visitas presidenciais no exterior, sem comprometer o protocolo oficial. Dilma, mais discreta, denunciando ao mundo as desigualdades sociais do nosso continente. Comportavam-se nos encontros internacionais como verdadeiros estadistas, honrando nossos laços diplomáticos.

Jair Bolsonaro, até aqui, foi o único a ignorá-los, com suas tiradas aéticas e declarações falsas, quando não ele, seus filhos. Na estreia da AG da ONU, um desastre, conquistando desconfianças por parte dos líderes mundiais, dado seu vocabulário incabível e preconceituoso, criticando a imprensa e questionando posições da França nesse organismo. No Brasil, coleciona encrencas com o Supremo, Congresso Nacional e a Ciência, no caso da covid-19. Não poupou a China nem Venezuela. Francamente, não sei de seu futuro prestígio político, agora sem seu título, dado pelos ingleses: “Trump dos Trópicos”. 

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