O suspiro da vida

A família Boechat perdeu! Sim, como perdeu! Uma perda imensurável. Os filhos, a esposa, os sobrinhos e também os amigos perderam. Eles tiveram o privilégio de conhecer seus medos, suas falhas, seus acertos, o ser humano Ricardo Boechat como era em sua verdadeira essência. Assim como as sextas-feiras 25 de janeiro e 8 de fevereiro, a segunda-feira, 11, era mais um dia comum na vida dessa família, da redação da Band, dos ouvintes e telespectadores que o tinham em sua rotina e de outras famílias. Era só mais um dia comum. Era só início de mais uma semana. Mas, como nos dias 25 de janeiro e 8 de fevereiro, o que era para ser rotina, foi marcado pela tragédia, dor, tristeza e pelo luto. E, junto com a família, o Brasil perdeu mais uma vez. 2019, sem sombra de dúvidas, tem sido um ano marcado por perdas imensuráveis, e nesta segunda-feira tivemos mais uma.

Tivemos, sim, porque Boechat fazia parte do “patrimônio histórico” do jornalismo. Quantos profissionais, em tempos de faculdade, e até mesmo já exercendo a profissão, se inspiravam nele? Como bem disse padre Fábio de Melo na tarde desta segunda-feira, “é mais do que perder uma mente brilhante. É perder uma consciência lúcida, iluminada, que sabia ver o Brasil sem partido, sem paixões”. O café da manhã, que antes tinha a presença certa deste jornalista brilhante, desde ontem está vazio. Falta algo. Falta sensatez, inteligência, perspicácia, força para enfrentar este país que a cada dia toma um rumo incerto. Falta a coragem, que encorajava a tantos para resistir e continuar na luta e na esperança de um Brasil melhor.

No momento em que uma legião de  gente boba começa a ter voz no país, e a ter cada dia mais espaço, e outras tantas legiões são construídas dentro de igrejas, perdemos um dos poucos seres humanos que conseguia nos dar o norte, e nos fazer recobrar a consciência. No momento em que o jornalismo luta com unhas e dentes para se manter de pé, e não ser destruído pela ignorância, perdemos um dos nossos maiores porta-vozes. Do dia 25 de janeiro para cá, ainda não conseguimos calcular nossas perdas. Desde 12h28 daquela sexta-feira trágica em Brumadinho, ainda não conseguimos mensurar o que perdemos.

A vida segue, é verdade. Como dizia Shakespeare, “o mundo não para, para que você cate os seus pedaços”. Estamos no chão. Nossos corações estão em cacos no chão. A vida continua seu espetáculo, mas agora mais cinza, mais nublada, mais triste. O café da manhã nunca mais será o mesmo. Não teremos mais alguém para nos recobrar a consciência e nos dar esperança que esse país tem jeito. Que o jornalismo sério contribui – e muito – para a sociedade, por mais que calhordas tentem dizer o contrário. O Brasil hoje está mais pobre. O jornalismo hoje está mais pobre. E com as suas próprias palavras terminamos estas linhas, dedicadas a ele. “Pessoas com medo não mudam o país”. Levantem-se, colegas. Continuem o seu legado. Recobrem consciências todos os dias, e mantenham-se firmes na luta, mesmo que o dia não comece mais como começava até esta segunda-feira.

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