O rei leão entre nós

Leila Rodrigues

E no meio da confusão do meu dia, meu filho me chama para assistir o trailer do filme “O rei leão”, da Disney. Na hora, tento adiar, mas os olhos felizes e entusiasmados do meu filho me fizeram mudar de opinião. Assistimos juntos. E prometemos assistir juntos o filme, para lembrar de quando ele tinha 6 anos e sabia todas as falas e músicas. O filme agora é novo! Novo, moderno, todo digital. Mas com a mesma lição. E que lição!

“Enquanto outros pensam no que podem ganhar, um verdadeiro rei pensa no que pode dar.” O rei leão. Um filme infantil? Um filme para todos nós.

Creio que estamos todos precisando aprender um pouco sobre reis, reinados e tronos. Criamos os filhos com todas as regalias possíveis e prováveis, crentes que este reinado continuará além dos portões de nossas casas. Ingênuos que somos. Um rei se cria através do exercício diário de servir, de perceber o reino e suas necessidades. Lá fora não tem nenhum reinado à espera de nossos filhos. Lá fora a vida exige enfrentamento, exige escolhas difíceis, exige esforço, estratégia e acima de tudo humanidade. E reinar? Ah, reinar exige tudo isso e muito mais!

Criamos pseudotronos e colocamos ali pessoas completamente despreparadas para reinar. Ignoramos por completo os fatos, a história, a experiência e o caráter. Elevamos a reis pessoas que nunca sequer perceberam seus súditos e nos curvamos a reis que nunca reinaram de fato.

Onde estão nossos reis? Onde estão aqueles que deveríamos ouvir, seguir, obedecer ou simplesmente respeitar enquanto líderes? Onde foi parar o ciclo da vida? O ciclo que gera educação, confiança, respeito e experiência? Pergunto onde foi parar nossa percepção de certo e errado, de aprendiz e mestre, de ciclos que um dia terminam e outros começam? Perdemo-nos nas migalhas dos nossos próprios interesses e foi exatamente aí que deixamos de ser um reino. De liderados passamos a ludibriados e chegamos onde estamos.

Todos opinam, todos querem cinco minutos de reinado. E para isso não importa o reino. Não há lugar para os mortais, não há lugar para os comuns, para os que não deram certo. E à deriva de tudo isso, estamos nós, sem líderes, sem referência, sem ter alguém a quem confiar, sem ciclos.

Que nossos filhos estejam preparados para enfrentar “Scar e suas hienas”; que nunca lhes falte “Timão e Pumba” pelo caminho. E que saibamos prepará-los para o ciclo da vida!

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