O que se foi sempre pode voltar

Augusto Fidelis

Acabo de ler o segundo livro da trilogia “Histórias da Gente Brasileira – Império”, da historiadora Mary Del Priore, lançado em 2016 pela Editora LeYa, que coloca o leitor dentro do viver e do morrer dos brasileiros do século XIX, em 515 páginas. Nessa época havia alegria, porém muito mais sofrimento, revoltas e doenças sem fim.

“Divididos entre o saber científico do médico e o saber tradicional do médico-feiticeiro, a gente brasileira lutava contra as epidemias que varriam sistematicamente as cidades do Império”, relata Del Priori. Nos anos de 1855 e 1856, a epidemia de cólera matou o equivalente a 5% da população. Sem saber como a doença era transmitida, em vão lutavam os órgãos de saúde.

Em seu livro de memórias, Félix Cavalcante de Albuquerque chamou a epidemia de “monstro horrendo”, para acrescentar: “A morte ameaçando a todos, os cadáveres ficaram insepultos, as cidades entregues a desolação (...). Via-se com uma mistura de dor e indiferença morrer o amigo, o pai, o filho, o esposo e a sensibilidade já amortecida não manifestava pesar intenso que a todos devia dilacerar”.

Durante essa epidemia, dentre tantas outras, como a febre amarela, que em 1889 matou 3% da população de Campinas, os sepultamentos, antes cercados de pompa fúnebre, eram realizados rapidamente. O Brasil passou a ser perigoso para os visitantes estrangeiros. As agências de viagem da Europa operavam diretamente para Buenos Aires, sendo proibidas escalas em portos brasileiros, privando o Império do transporte marítimo e da exportação do café.

Mas por que os brasileiros eram vítimas de tantas doenças? Del Priori explica: “As péssimas condições sanitárias e higiênicas da gente brasileira”. Durante a Guerra do Paraguai, as doenças dizimaram em número muito superior os soldados brasileiros do que os ferimentos à bala. As campanhas de vacinação encontrava resistência junto à população, principalmente juntos aos negros, porque estes entendiam que era uma forma que os brancos encontrarampara eliminá-los, já que se mostravam pouco ou nada eficientes.

Findou-se o Império e a República não resolveu os problemas que afligiam a população. Como sempre, só a elite lucrou. Até hoje, boa parte dos brasileiros não tem água tratada, rede de esgoto, e o lixo acumulado aqui e acolá continua sendo fonte de doenças. Como acontecia no tempo da Colônia e do Império, na atualidade, a população continua acumulando lixo nos lugares errados. Que o digam as campanhas de combate à dengue. Será quando as coisas realmente vão mudar?

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