O poder das palavras

Ômar Souki

Com frequência nos referimos a nós mesmos com expressões negativas: “Eu sou mesmo desastrada”, “Eu sou tão burro”, “Eu não tenho sorte”, “Eu gripo com facilidade”, “Tudo é tão difícil para mim”, “Não consigo emagrecer”, “Perco tudo”. Também, reparamos demais nos defeitos dos outros: “Antônio é um chato”, “Marta tem a cabeça oca”, “Manuel é mentiroso”, “Veja só a gordura da Renata”, “A Lúcia é fofoqueira”, “O Rafael fala demais”. Assim por diante, uma parte de nosso dia é desperdiçada falando mal tanto de nós mesmos quanto daqueles com quem convivemos. Quando refletimos sobre o imenso poder das palavras, passamos a ter mais cuidado ao falar. Pensamos mais antes de nos expressarmos a respeito de nós mesmos ou dos outros.

Somos donos do nosso silêncio, mas escravos de nossas palavras. Por isso, devemos pensar duas vezes antes de falar. Às vezes, sem querer, reparamos que um amigo está engordando demais ou mentindo muito. O pensamento chega à nossa mente, ficamos com vontade de comentar a respeito da fraqueza daquela pessoa. Estamos prontos para falar algo, mas não dizemos nada. Calamos! O ideal é mudar o foco de nossos pensamentos e pensar em algo positivo: na beleza daquele dia, no sorriso do André, na calma da Mônica, na doçura do Tiago, na chuva que cai mansamente em nosso quintal, na deliciosa fruta que estamos prestes a saborear etc. Se o pensamento tem poder, imagine então qual é a força das palavras. O relato bíblico da criação diz que tudo foi feito pela palavra. Faça-se a luz! E a luz se fez. E, quando Deus nos criou, nos fez à sua imagem e semelhança. Isso quer dizer que podemos criar o nosso mundo através de nossas afirmações. Teremos uma vida saudável e construtiva se nossas declarações forem positivas. Ou amarguras, tristezas e decepções, caso nossas afirmações sejam negativas.

É importante ter plena consciência de que tudo aquilo que falamos a respeito dos outros atinge a nós primeiro. Se falarmos mal do José para o João, estamos fazendo algo terrível tanto para o José quanto para o João. O José pode perder a credibilidade junto ao João, e este pode começar a pensar mal do José, o que é destrutivo para ambos. Sim, fizemos uma má-ação para o José e para o João, mas pior ainda para nós mesmos. Ao darmos início a uma fofoca, o vírus que disseminamos em nosso entorno volta para nós com poder multiplicado. Desde os 12 anos tenho plena consciência de que é assim que as coisas funcionam. Fui alertado para o tremendo poder dos nossos pensamentos e palavras por Norman Vincent Peale, em seu livro “O poder do pensamento positivo”. Mas saber algo não significa que agiremos sempre de acordo com aquele conhecimento. A teoria na prática é outra. Podemos saber toda a teoria, mas na vida prática continuamos agindo de forma errada.

Muitos anos depois de ter lido aquele livro sobre o poder dos pensamentos e das palavras, eu me peguei fazendo o oposto do que o autor sugeria e do que eu achava correto. Enquanto eu ministrava uma aula de marketing na universidade, um dos alunos reclamou que eu estava sendo rigoroso demais nas avaliações da turma. Eu, então, quase sem perceber, o aconselhei a mudar de turma. Com certa ironia na voz, sugeri que ele fosse ter aulas com um professor que era mais fácil e que passava todo mundo. Cometi um grave erro. O aluno foi direto contar para ele. Imaginem a minha cara quando aquele professor veio falar comigo e comentou: “Eu considero você como amigo e colega. Espero que você não tenha nada contra a minha pessoa. Um aluno veio falar comigo e, pelo que ele me disse, parece que há alguma diferença entre nós”. Pedi mil desculpas. Mas o estrago já tinha sido feito.

Que enorme poder têm as palavras! Você já viveu uma situação dessas? Espero que não. Eu me senti mal. Fiquei chateado comigo mesmo e não tinha mais como consertar o erro. Tive sorte porque aquele professor era uma alma boa e, pelas suas atitudes, percebi que tinha me perdoado e esquecido o assunto. Mas eu não me esqueci do ocorrido. Passei a ter mais cautela: pensar mais, antes de falar.

 

Assim como destroem, as palavras também podem construir e muito. Mude o seu diálogo interno hoje mesmo. Ao se referir à sua pessoa, diga em voz alta: “Eu sou cuidadoso”, “Eu sou inteligente”, “Eu sou uma pessoa de sorte”, “Tenho saúde perfeita”, “Emagreço com facilidade”, “Tudo é tão fácil para mim”, “Sempre encontro o que eu preciso”. E com relação aos outros: “Antônio é bom”, “Marta tem me ajudado muito”, “Manoel é meu amigo”, “A Renata tem um lindo sorriso”, “A Lúcia é muito comunicativa”, “O Rafael é um belo rapaz”. O mal-estar que você sentiu ao ler o primeiro parágrafo deste artigo foi, agora, num piscar de olhos, transformado em alegria. O que foi que mudou? O conteúdo das palavras.

 

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