O pico da irresponsabilidade

Editorial 

Desde março, o Brasil vive a constante agonia do: e o pico do coronavírus, é quando? A cada mês que passa, uma nova projeção. “O pico será em maio; não, foi adiado para junho; agora passou para julho; e daqui a pouco será em agosto.” Isso em Minas Gerais, visto que outros estados, como São Paulo, ele já passou e os números começam a estabilizar. Por aqui, o tal pico não chega e os mineiros precisam ver todos os dias os casos confirmados aumentando e o número de mortes também. Todo dia um novo recorde. Junta-se a tudo isso a constante agonia do: a minha empresa vai sobreviver a tudo isso? Eu vou ter emprego amanhã? Eu vou sobreviver a tudo isso? E é assim, em meio a “cadê o pico?”, ao “como vou sobreviver?” e ao “quando isso vai acabar?”, se é que vai, que está consumindo a população dia após dia, que o trabalhador se arrisca e sai de casa todos os dias em busca do pão. É assim, “entre a cruz e a espada”, que muita gente tem vivido desde março. 

A mídia nacional divulgou na última semana um gráfico que mostra a evolução dos casos da covid-19 em países europeus, como Itália, França e Reino Unido. Nestas  nações, tudo aconteceu como previsto pelas autoridades locais e a Organização Mundial de Saúde (OMS). O início da pandemia, o pico e, por fim, a queda de casos confirmados e mortes. O que é mais estarrecedor foi verificar o gráfico do Brasil ao lado destes países. Aqui não existe pico, a linha do gráfico só sobe. Em Divinópolis, não houve um só dia em que os casos confirmados retraíram. Ontem, mais uma morte pela doença foi registrada na cidade, batendo a marca de 18. O pico simplesmente “não vem”, ele simplesmente não existe por aqui. Nas terras tupiniquins, a coisa está meio desorganizada e é “cada um por si e Deus por todos”. 

Sem qualquer tipo de política pública de assistencialismo, com uma economia que patina e governantes que estão dando “tiros no escuro”, mesmo que busquem acertar, o brasileiro está à própria sorte e talvez este seja outro fator importante para que a cada dia o país bata um novo recorde. Enquanto espera pelo “pico”, para enfim se pensar em uma retração nos casos, e, quem sabe, livre do coronavírus, o brasileiro precisa lutar para comer, viver e sobreviver. Mas não é tão fácil quanto parece. Pois, o que mais se encontra por aí são pessoas descumprindo as regras básicas de prevenção da covid-19, como usar máscaras, evitar aglomerações, além daquelas que negam veementemente a existência da pandemia. O desespero, a irresponsabilidade e a realidade talvez sejam os principais fatores para que o Brasil viva um “pico constante” e demore muito, mas muito mesmo para ver o fim deste pesadelo. 

Sem ter certeza do que virá amanhã, e com os governantes e empresários fazendo o melhor que podem, muitos ainda insistem em agir com irresponsabilidade e imaturidade na situação.  O brasileiro que precisar botar comida na  mesa apenas luta para sobreviver ao caos, se arrisca, se reinventa, luta e reza. Se o pico vem, ninguém sabe, mas um fato que não tem como contestar: o brasileiro será a sua “própria cura”, o dono da sua história. Mas para ser dono da sua própria história e ser a sua própria cura é necessário que esteja consciente que o direito individual termina quando o coletivo começa.  

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