O mundo sem ninguém

Augusto Fídelis

No último domingo, logo pela manhã, cheguei ao portão e lancei um olhar comprido em busca de algo, na verdade, sem saber o que eu buscava. Deparei-me com a rua totalmente deserta, as casas em silêncio, não havia trânsito de pedestres nem de veículos. Tive a sensação que, de madrugada, enquanto eu dormia, todos foram embora e me deixaram para trás. Tive vontade de bater asas, sumir em direção a algum lugar. Mas ir aonde?

Para completar, o sol brilhava palidamente, sem vigor, como nas manhãs nubladas, embora não houvesse nuvens. Não tendo compromisso fora no horário, retornei-me para o interior da casa em busca de uma ocupação até o momento do almoço. Nesse meio tempo, a minha gatinha Kaythe retornou do seu passeio matinal e me convidou para brincar. Agradecido pela gentileza, aceitei. E assim a manhã se foi.

Mas, de repente, enquanto eu ainda estava no portão, encontrei-me no cenário do filme “O mundo sem ninguém”, que me fora recomendado há algum tempo pelo cinéfilo Garcia Júnior, película que mostra o mundo depois da extinção da espécie humana. O espetáculo midiático fúnebre que nos é oferecido diuturnamente, em especial na televisão, provoca a impressão de que isso pode acontecer. Afinal, são tantos amigos dando adeus, às vezes abruptamente. 

Hoje, morrer ficou mais triste, apesar do aumento da indiferença, ninguém tem mais tempo para o luto. Não há missas ou encomendações na igreja, não há música solenidade de invocação a Deus em favor do falecido, não há mais o badalar dos sinos. Aliás, há certos casos em que os familiares sequer podem entrar no cemitério, muito menos os amigos. Pensar que isso é realidade e não ficção incomoda muito. E o pior: há a previsão de que, doravante, muitas outras pandemias virão. O script ora escrito pela Nova Ordem Mundial é assustador.

Numa de suas pregações, dom Adair José Guimarães, bispo de Formosa, lembra que o ser humano não pertence a este mundo, apenas passa por ele. Muito oportunamente adverte a CNBB que é preciso falar mais de Jesus e da vida eterna, pois a missão da Igreja não é cuidar de política e ecologia, mas da salvação das almas. 

A transitoriedade da vida é inquestionável, apesar de muitos viverem como se fossem eternos. Um dia toda a arrogância será castigada. Certo de tudo isso, tenho me esforçado para seguir os conselhos de Tobias (4,16.17.19-20): “Não faças a ninguém o que não queres que te façam. Dá do teu pão aos que têm fome, de tuas roupas aos que estão nus (...). Bendiz o Senhor em todas as circunstâncias, pede-lhe que dirija teus caminhos e que cheguem a bom termo todas as tuas veredas e projetos”.

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