O milagre do otimismo
Ômar Souki
Em Barretos, São Paulo, presenciei o milagre do otimismo. Visitei o Hospital do Câncer, hoje com o nome de Hospital de Amor, e fiquei impressionado com a extensão de suas instalações e a grandeza de seu propósito. Com o objetivo de oferecer tratamento humanizado e de qualidade para os pobres, o hospital é fruto do sonho “impossível” do médico Paulo Prata. Fiquei curioso para saber mais sobre essa iniciativa. E, alguns dias depois, por “coincidência”, fui presenteado por minha sobrinha Mariana Moreira com a obra Acima de tudo o amor (Editora Gente).
Nesse livro, Henrique Prata, filho do doutor Paulo, descreve como a fé e a solidariedade construíram o maior polo de referência nacional na luta contra o câncer. Sem curso de medicina, ele transformou em realidade o sonho do pai, que desejava oferecer atendimento de excelência aos pobres. Mesmo sendo agropecuarista, Henrique abraçou a missão de curar milhares de pessoas com câncer em um atendimento gratuito, humanizado e de alta qualidade. Com inquebrantável otimismo, Henrique dedicou-se a angariar fundos para transformar o pequeno Hospital São Judas – fundado pelo pai – em dos maiores centros mundiais no tratamento oncológico. Para isso, angariou doações de empresários, fazendeiros, artistas e figuras públicas. Percorreu 21 países e trouxe tecnologias de ponta que lhe renderam prêmios e reconhecimento internacional.
Dentre os vários desafios que tecem a saga de Henrique para transformar o sonho em realidade, destaca-se o seguinte: “Nossa despesa mensal (em 2002) era de 15 milhões de reais por mês, e uma receita do SUS de 9,5 milhões...”. Para cobrir a diferença, ele contava com o apoio de eventos, como shows de artistas famosos e do tradicional rodeio de Barretos. Mas utilizou o dinheiro que tinha em caixa para comprar equipamentos para o centro cirúrgico e para a UTI e “na pressa de pôr tudo para funcionar, eu tinha avançado o sinal”. “...mas eu, que confiava em Deus e sempre fui muito otimista, acreditava que algum dinheiro fosse entrar, ou que eu faria um empréstimo pessoal, qualquer coisa.” Pensou em ligar para os fornecedores pedindo que prorrogassem o prazo das duplicatas e em pedir aos bancos que esperassem. Mas não foi preciso. O seu otimismo e a sua fé em Deus foram recompensados.
”No dia seguinte, por volta das nove da manhã, me telefonou uma pessoa em cuja casa eu estivera fazia uns dez anos e que estava na lista daqueles fazendeiros – os primeiros – a quem havíamos pedido contribuição para o nosso projeto. Era dona Eunice Carvalho Diniz, viúva do senhor Zico Diniz, uma grande pecuarista, de muito dinheiro, de grande patrimônio, uma das pessoas mais dignas que conheci. Naquela ocasião ela me dissera: ‘Olha, meu filho, eu costumo esperar para ver. Se as coisas realmente derem certo, eu vou ajudá-lo. No começo, vou lhe ser muito franca, não ajudo, não’. Mas agora, passados dez anos, dona Eunice manifestou seu desejo de visitar o hospital e de fazer uma doação.”
Antes de sua chegada, Henrique comentou brincando com um colega: “pelo tempo que levara para ela nos dar aqueles primeiros 10 mil dólares (quantia solicitada no início do empreendimento), bem que poderia nos trazer 100 mil”. Essa quantia seria utilizada para pagar, em dia, muitos pequenos fornecedores, o que já poderia ser considerado como um milagre. Mas, não, em vez dos 100 mil dólares (aproximadamente 400 mil reais, hoje), dona Eunice “tirou da bolsa um cheque dobrado e me entregou. Era uma quantia inacreditável: 2 milhões de reais!”. Henrique concluiu: “O amor transgride a lógica, a razão, a matemática!”. Passou, então, por uma igreja e, de joelhos, agradeceu a Deus pela maneira como tinha intervindo.
Esse foi apenas um dos inúmeros milagres vivenciados por Henrique no afã de levar aos pobres o que de melhor existe no mundo. Não é de se estranhar que seu otimismo seja recompensado diariamente. Ele afirma: “Para se ter a bênção de Deus, que tudo torna possível, temos que sonhar alto, olhar para o céu e ignorar a distância entre o que é possível e o sonho!”.