O herói do meu silêncio

Gosto de São Paulo. Gosto de andar pelas ruas de São Paulo. Sinto-me a pessoa mais comum do mundo, mas também me sinto parte dele, ainda que ínfima, e isso é tudo de bom!

Ali, naquela diversidade louca, onde se tem pessoas de todos os tipos, de todos os jeitos, de todos os gostos, de todas as tribos, de todos os lugares, eu me perco e me encontro.

Perco-me no meio de tanta gente, de tantas opções e me acho nas minhas escolhas, nas minhas atitudes e decisões.

Como seria um mundo sem diversidade? Já pensou uma cidade só de adolescentes, outra só da terceira idade, um estado só de balzáquias, outro só de gays, que horror?!

Cada um na sua, no seu... No seu telefone, no seu carro, nas suas máscaras, nos seus clubes, nas suas redes, nos seus grupos. Sim, nos seus grupos, nas suas comunidades.

Hoje existe comunidade para tudo, até para os sem interesse em se comunicar, pode? É comunidade das bordadeiras, dos abstênios, dos anônimos (de qualquer coisa), das mães das crianças portadoras de pancreatite, dos mecânicos, dos opaleiros... E por aí vai, sem falar nos tradicionais e conhecidíssimos grupos que já tomaram fama mundial.

Incrível como as pessoas vão se encontrando, vão se juntando, vão se formando. É como se buscassem os seus pares, os seus irmãos espalhados pelo mundo, qualquer um que tenha as mesmas opiniões, os mesmos interesses, para então curtirem juntos suas opções comuns.

Eles se acham, se entendem, se defendem, se formam. E uma vez formados eles nunca mais são um só. É como se juntos eles criassem uma força avassaladora, um poder que não se explica em uma conta matemática onde um mais um são dois, porque um mais um, neste caso, são vinte e cinco.

Quantos pecados mortais antes guardados a sete chaves, hoje são discutidos, impressos, legalizados, defendidos! Quantas ideias e opiniões ocultas isoladas durante anos, hoje viraram leis, livros, cotidianos.

Herói do meu silêncio é você que puxou este cordão, que foi o primeiro da fila, que pagou o preço alto desta coragem. Você que mostrou sua cara, que escancarou seus valores, ou que, discretamente abriu sua boca e começou tudo.

Você é um herói. O herói do meu silêncio.

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