O futuro papa e o neomarxista

O professor e pesquisador divinopolitanto José Geraldo Pedrosa é um estudioso de Theodor Adorno, membro destacado da Escola de Frankfurt, corrente renovadora do marxismo. Mas não é sobre Adorno que escrevemos hoje. Não queremos deixar que termine o ano sem dizer alguma coisa sobre Jürgen Habermas, outro dos maiores pensadores do nosso tempo, que completou 90 anos de idade, em junho.

Comecemos pela Academia Católica da Baviera, em Munique. Ali realizou-se, há 15 anos,  um evento que repercutiu, antes e depois, nos círculos intelectuais e universidades da Europa e, enfim, no mundo inteiro. Houve manifestações de interesse, inclusive de onde não se esperava, como o Marrocos e o Irã. Apesar de nós, ocidentais, desconhecermos, o mundo islâmico possui grandes universidades e centros de pesquisa. 

Foi um encontro entre dois homens representativos dos círculos acadêmicos alemães: um dos filósofos mais importantes da atualidade, Jürgen Habermas, e o então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, da Cúria Romana, o cardeal Joseph Ratzinger. No ano seguinte, 2005, ele se tornaria o papa Bento XVI. O diálogo versou sobre o tema: “dialética da secularização, relação entre a razão e a religião”. Os textos das duas falas foram logo publicados em vários países, inclusive no Brasil e em Portugal.

Nascido aos 18 de junho de 1929, Habermas é o herdeiro e último grande representante, ainda vivo, do movimento conhecido como Escola de Frankfurt. Dois de seus membros destacados, Theodor Adorno e Max Horkheimer, deixaram uma obra conjunta: “Dialética do Esclarecimento”. Nela, mostram-se pessimistas quanto às possibilidades da modernidade, como foi pensada pelos iluministas. Porém Habermas não assumiu esse pessimismo, pois via um potencial emancipatório na razão. Na obra “Teoria do Agir Comunicativo”, elabora e propõe conceitos como: razão comunicativa, agir comunicativo e ética do discurso. Ou seja, há alternativas à razão iluminista que veio desembocar na razão instrumental e dominadora do ser humano. Na sequência do seu pensamento estas são vias iniciais e pressupostos de consequências e possibilidades.

 É por aí que se tornou viável, em 2004, o diálogo entre o filósofo neomarxista e o futuro papa, na Academia Católica da Baviera. Afinal, uma sociedade fundamentada na razão e na dignidade humana é o ponto comum em que eles se encontram e são capazes de entender-se. Ratzinger nasceu em 1927.  [email protected]

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