O exercício do poder

Dizem por aí que o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) vai dar uma passadinha por Divinópolis. Dizem nos corredores que o principal motivo para sútil visita seria a denúncia do vereador Sargento Elton (Patriota) ao Ministério Público (MP) sobre a prática de “raxadinha” – quando o assessor passa parte de seu salário para o parlamentar –  e troca de favores entre Executivo e Legislativo. A denúncia é séria, muito séria. Deve ser apurada com calma, para que nenhuma “ponta” fique solta, para que, se for verdade, ninguém que cometa este ato saia impune. É preciso, agora, que o MP faça o exercício do poder e mostre que não é em todo lugar do país que os crimes ficam impunes. Porque, se tem uma coisa que mata, e estimula ainda mais a criminalidade no Brasil, é a certeza da impunidade.

O Brasil chegou a um ponto que não dá mais. O país se dividiu, com o fim da ditadura, em direita e esquerda. Porém, um abismo foi formado entre as duas partes em 2016, quando o então senador Aécio Neves (PSDB) apertou o “play” para o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Ali, o país se dividiu de uma forma, que talvez seja irreconciliável. Tudo isso se tornou doentio durante as eleições do ano passado, quando Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) disputaram a Presidência do Brasil. Mas, tudo isso foi apenas “para inglês ver”. Como disse o ex-ministro do planejamento, Romero Jucá, a sangria estava muito além daquilo que os veículos de comunicação mostravam. A sangria, que precisava ser estancada, estava na Câmara dos Deputados e no Senado, onde malas com dinheiro circulam livremente.

Enquanto o país se dividia em (praticamente) uma guerra civil, que não levou e não levará ninguém a nada, enquanto os olhos dos brasileiros estavam voltados para o teatro do impeachment, a sangria continuava (e continua). Dizem que para driblar uma crise é preciso criar outra. Excelente! Não há estratégia melhor. Virem os olhos da população para o Executivo, que o Legislativo andará livremente, tacando pedras, enquanto o seu telhado é de vidro. Mas um vidro tão fino, que parece cristal. Virem os olhos da população para um problema menor, enquanto o Legislativo continua exercendo o seu poder. Ah, o poder! Aquele que leva homens e mulheres à loucura. A cometerem atos muitas vezes questionáveis. Aquele que leva homens e mulheres a traírem os seus, e a usarem a população apenas como massa de manobra para chegarem a ele, ou para permanecerem nele.

Mas, se há o poder que destrói, com certeza deve ter o poder que constrói ou reconstrói. Talvez, caiba à população ter o poder de distinguir os dois, de saber qual poder constrói e qual destrói. Talvez caiba à população o poder de não se deixar levar pelo midiatismo barato, pelos discursos bonitos e pelas intenções que lotam o inferno todos os dias. E, talvez, caiba ao MP o poder de trazer uma luz no fim do túnel divinopolitano. Se a intenção foi boa? Não se sabe, mas que ela tenha o poder de “estancar a sangria”, e limitar aqueles que se julgam vencedores e inatingíveis.

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