O esquecimento

Existe um ditado popular que diz “quem procura acha”. O desastre em Bento Rodrigues, no fim de 2015, não foi suficiente para que outras mineradoras aprendessem e trabalhassem para evitar outra tragédia. Três anos se passaram e os mineiros vivem a mesma situação, porém cem vezes pior. O número de mortos registrados em Bento Rodrigues foi 19, já o de Brumadinho acredita-se que irá passar dos 300. Até o momento, são 84 mortes confirmadas, 31 corpos reconhecidos, e 288 desaparecidos.

Já são sete dias de buscas, de trabalho e, mesmo com as chances remotas de alguém ser encontrado com vida em meio ao lamaçal, há quem carregue esperança. Os repórteres, voluntários e profissionais que estão no local já relatam que o odor da morte toma conta da cidade.

Em meio a tudo isso, fica a certeza de vidas marcadas pela ganância, estão os políticos. Eleitos pelo povo para representá-lo e para trabalhar por ele. Logo após o alvoroço causado pela tragédia de Bento Rodrigues, os “engravatados” se prontificaram a ajudar, a investigar, a apurar cada detalhe e trazer uma resposta para a população. Instauraram uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) — medida bem conhecida em Divinópolis e de duvidosa eficácia —, que depois virou comissão extraordinária. A justificativa para tal mudança era que esta comissão não entra de férias em janeiro.

Com férias ou sem férias, a verdade é que o tempo passou e nada foi feito. A Samarco não pagou R$ 1 de indenização às famílias e muito menos as multas ao Ibama, que somam R$ 350 milhões. O tempo passou, o fato foi esquecido pelos brasileiros e a vida continuou. Foi preciso que outra barragem se rompesse para que o caso fosse trazido novamente à tona. E, dentro da máxima de que “quem procura acha”, eis que acharam.

Acharam que, dos 22 deputados estaduais que investigariam a tragédia de Bento Rodrigues, 19 deles receberam dinheiro de mineradoras em suas campanhas em 2014. Os valores variam de R$ 7,35 a R$ 567.841,53. Talvez, não seja tanta “coincidência” o fato de a apuração do rompimento da barragem do Fundão, em Bento Rodrigues, não ter virado nada. E o que mais impressiona nessa novela é que o fato de os parlamentares que iriam investigar a tragédia de Mariana terem recebido dinheiro de mineradoras em suas campanhas ficou simplesmente esquecido, assim como as vítimas e as famílias das vítimas.

Alguns engenheiros foram presos, porque atestaram a segurança da barragem do Feijão, em Brumadinho. Mas será que prenderam as pessoas certas? Será que o rompimento da barragem é responsabilidade apenas dos engenheiros que atestaram a segurança do local? Se procurarem mais um pouco, acham muito mais do que simples relatórios que atestam segurança. Se procurarem mais um pouco, acham quem são os verdadeiros algozes do povo.

Até que procurem e punam os verdadeiros culpados pela morte de centenas de pessoas, o jeito é ir torcendo para, daqui três anos, esta tragédia não ter caído no esquecimento e a ganância não fazer novas vítimas.

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