O espelho

Divinópolis amanheceu mais uma vez com uma notícia  sobre o residencial Jardim Copacabana. O Ministério Público Federal de Divinópolis (MPF) denunciou 16 pessoas pelo crime de falsidade ideológica. Em outras palavras, essas pessoas mentiram sobre o valor de sua renda mensal e composição familiar para ganhar uma casa. O residencial faz parte do programa do Governo Federal “Minha Casa Minha Vida", destinado a famílias de baixa renda ou em situação de extrema pobreza. As parcelas não ultrapassam R$ 100, e têm como finalidade dar moradia a quem não tem condições de pagar aluguel. Mas, a bem verdade é que a situação do Jardim Copacabana, que se arrasta há anos, é só o espelho da sociedade brasileira. Enquanto o povo cobra o fim da corrupção lá “em cima”, ela “corre solta” aqui embaixo.

Não só no Copacabana, mas vários outros residenciais do “Minha Casa Minha” Vida foram alvos de fraudes deste tipo. Porém, há de se perguntar: quem mentiu ganhou realmente algo? Se Divinópolis tem um bairro marcado pelo descaso do poder público, este bairro é o Copacabana. Afastado de tudo e todos, os moradores precisam conviver com a alta criminalidade, esgoto escorrendo a céu aberto, falta de água, dejetos transbordando em seu quintal, entre outros milhares de problemas de infraestrutura. Basta dar uma volta pelas ruas do bairro para constatar que quem está lá é porque realmente precisa. Quem permanece no bairro, mesmo diante da falta de infraestrutura, é porque não tem outro lugar para morar.

A sensação que dá é de que o bairro é uma ilha de Divinópolis. E, seguindo o contraste da sociedade brasileira, alguns quilômetros à frente, ainda na BR-494, a cidade tem um condomínio de luxo, onde os ricos desfrutam do que há de melhor nesta vida. Poucos quilômetros separam os dois extremos: a extrema pobreza e a extrema riqueza. Em meio a isso tudo, há a corrupção. Além de se questionar se foi “vantagem” ter um imóvel no Copacabana, há de se perguntar quem é o mais afetado pela corrupção: a extrema pobreza ou a extrema riqueza? Tal situação só mostra a realidade brasileira. Enquanto poucos têm muito, muitos têm pouco. E afinal, como sobreviver em um país que oferece muito para poucos, e pouco para muitos?

Sim! O Ministério Público Federal está mais do que certo em investigar as fraudes cometidas. É mais do que escancarado que algumas pessoas se inscreveram no programa apenas para alugar ou vender o imóvel, ou apenas para valorizá-lo e depois vendê-lo. E no fim disso tudo a única conclusão que se tira é que é lamentável. É muito triste ver que não há como cobrar o fim da corrupção quando ela na verdade é o espelho da sociedade. É triste ver que a história do Brasil é marcada pela ganância do homem que quer cada vez mais. E é triste ver também que esses poucos, que já têm muito, são capazes de tirar dos muitos que tem tão pouco. É triste ver um rico tirar de uma mãe, que cria sozinha quatro filhos, com uma renda baixa, o teto que ela poderia ter sobre sua cabeça.

Realmente, o Brasil não tem alvará para funcionar. E os nossos políticos são apenas o reflexo da nossa sociedade.

 

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