O elogio da ignorância

Antônio de Oliveira

Por que não? Pois não existe o livro O Elogio da Loucura, escrito por Erasmo de Rotterdam? A ignorância é uma bênção. Pensar dói... Essa percepção, doida e doída, eu ouvi de uma jovem questionadora. Sem dúvida, nossos políticos sabem disso e, por isso, muitos preferem manter o povo na ignorância, não dando a mínima para a educação. Sabem por intuição que ninguém ama o que desconhece. Inteligência sem descortino é mais fácil de ser manipulada. Santa ignorância! Incapacidade de ver longe, de antever, de prever e de predizer.

Odorico Paraguaçu, personagem de Dias Gomes interpretado por Paulo Gracindo, na novela “O Bem-Amado”, de 1973, repetia a frase: “A ignorância é que atravanca o progresso”. Isso toda vez que alguém dizia uma besteira. No papel de Ofélia e contracenando com Lúcio Mauro, o Fernandinho, a atriz Cláudia Rodrigues a repetir o bordão: “Eu só abro a boca quando tenho certeza”. Isso depois de dizer uma porção de bobagens.

Zé Bebelo, personagem de Guimarães Rosa, “Trepava de ser o mais honesto de todos,ou o mais danado, no tremeluz, conforme as quantas. Soava no que falava, artes que falava, diferente na autoridade...” Homem inteligente, intrujava de tudo.

Quanto mais alto se sobe mais amplo se nos apresenta o horizonte. Mais fácil, então, falar sem pensar. Viver é mais difícil que apenas existir. A condição natural dos corpos não é o repouso, mas o movimento. Movimentar-se, no entanto, custa. Às vezes, até dói. Praticar atividade física requer esforço e força de vontade. Alimentar-se moderadamente e viver bem requer educação alimentar. Andar num shopping sem atropelar os outros, principalmente os mais velhos, requer atenção. Não falar alto, de modo a incomodar os circunstantes, implica moderar a voz, monitorar-se. Fazer silêncio onde não se deve conversar, numa igreja, num hospital, não fazer silêncio altas horas da noite para não incomodar os vizinhos. Tudo isso é saudável, mas “dói”.

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