O círculo quadrado
Domingos Sávio Calixto
O livro “O Porco Filósofo” (BAGGINI, Julian – 2006) é um repositório interessante sobre experiências do pensamento voltadas para a reflexão e para a vida cotidiana.
Uma destas reflexões expõe um diálogo entre Deus e um filósofo. Tal diálogo tem início com o clássico preâmbulo do Criador, naquilo que se externa ad perpetuam: “Eu sou todo poderoso e não há coisa alguma que Eu não possa fazer!”.
“Então peço que faça um círculo quadrado”, disse o filósofo.
E o Senhor, claro, ordenou: “Faça-se um círculo quadrado!”. E foi feito.
Ocorre que o filósofo protestou dizendo: “Mas isso não é um círculo, é um quadrado!”.
Eis que o Senhor ficou furioso: “Se Eu digo que é um círculo, é um círculo, pois cuidado com tua impertinência, ou Eu posso fazê-lo em pedaços!”.
(...)
Ora, abre-se uma nova reflexão. Há quem diga que o atual presidente “foi eleito legitimamente pelo povo”.
Como é possível compreender um governo como legítimo se o adversário favorito foi criminosamente preso e tirado do pleito, numa farsa tão providencial e específica (lawfare) que sobram provas da trama ao alcance escandaloso da Vaza Jato? E ainda sobra medo de que o tal adversário volte.
Da mesma forma, como é possível compreender legitimidade numa eleição forjada em fake news – via gabinete do ódio – e alusões agressivas e aviltantes contra adversários, não devidamente apuradas?
Aliás, “nada a apurar” caracteriza um governo ilegítimo. Nada se apura em termos da família (do presidente) se envolvida com o crime organizado, nem se apura a própria corrupção vergonhosa dos gastos e ganhos do presidente, seu patrimônio, suas contas (e da respectiva família) e tudo comprometendo a própria estrutura do Estado brasileiro, desde o meio ambiente até a saúde da população a morrer como moscas ao deboche da pandemia e da falta de vacinas.
Qualquer legitimidade conferida a um governo assim só pode advir de uma mídia que com ele (se) compactua placidamente ao som da valsa que colocou fim à tal “Lava Jato” sob o disparate do “fim da corrupção”, providencialmente quando ela (“Lava Jato”) se aproximou “dos amigos” do governo.
De resto, sobram ameaças com ditadura e AI-5. E o filósofo estava certo.