O cinema

Amnysinho Rachid

Fui surpreendido nesta semana pela revolta de uma grande amiga, Claudinha, indignada por tentar assistir a uma sessão de cinema no nosso shopping. Ela foi barrada por não poder pagar com cartão, nem débito nem crédito, e o mais grave foi que não existia dinheiro em nenhum caixa eletrônico do shopping. Muito triste ainda estarmos tão atrasados em quesitos tão simples.

Hoje estamos reféns de salas de projeções, espaços pequenos e muitas das vezes com som muito alto e serviço limitado.

      Os grandes cinemas da minha infância eram bem diferentes. Nossa terrinha, ainda pequena, esbanjava no quesito filmes, existia para todos os gostos e sabores.

     Tínhamos os cinemas Divinópolis, Arte, Alhambra e o Popular. Cada um com suas características. Do Cine Divinópolis, que ficava ali na rua São Paulo entre Independência e 1º de Junho, todos sabiam a hora das seções, pois existia, do lado de fora, no alto da fachada, poderosos alto falantes que tocavam músicas, quase sempre clássicas, chamando o povo para o filme que iria começar.

      O Cine Arte, que ficava na rua Goiás entre 1º de Junho e Independência, tinha logo na entrada um poderoso e enorme estacionamento. Espaçoso, tinha aquela pegada de teatro clássico.

      O Cine Alhambra, o mais novo da cidade, ficava na av. Independência entre Minas Gerais e São Paulo. O último a ser construído, era com cadeiras de madeira e um segundo andar no fundo, vulgo puleiro. Com um pé-direito bem alto e um som diferente para a época, sua inauguração chamou a atenção da cidade inteira e a fila dava voltas no quarteirão. O filme “Doutor Jivago” marcou a noite.

       O poderoso Cine Popular, lindo, era o mais antigo na minha época. Todo rebordado, com detalhes de teatro antigo, e um segundo andar com belos camarotes vindo até bem perto da tela e grandes poltronas almofadadas, parecia abraçar quando sentávamos.

      Como os cinemas fizeram parte de nossa história! Saíamos da missa de domingo e já partíamos para as matinês. A rua lotava de crianças e lá dentro a farra era uma loucura, menino saindo pelo ladrão, deliciosamente pitoresco.

     À noite, a coisa já era diferente. Tinha sempre a censura, filme acima de 18 anos era barra pesada, sexo e tudo mais.

    O cinema marcou gerações de nossa cidade, adoro os casos antigos. Minhas primas, por exemplo, aproveitaram muito dessas seções. Na época, o chique da cidade era ver o filme em cartaz, grandes produções hollywoodianas que lançavam modas.

     Numa dessas sessões, minha prima Glorinha, linda, sempre na crista da moda, já namorando escondido o seu querido Faustinho, armou todo o esquema para ver o filme e encontrar com seu amado. Tinham um código para saber se o poderoso pai iria entrar no cinema. Como meu tio era careca, bastava olhar o reflexo da luz do filme. Se aparecesse um brilho da careca, era só largar as mãos e correr. Olhos atentos, partiu para o filme, tudo ia bem, todo mundo feliz, até uma mão bater no ombro da minha prima, já mandando que retirasse. Era o poderoso pai, que, desta vez de chapéu, deu o tombo na turma.

     E assim as coisas aconteciam, quem nunca viveu algo diferente no escurinho do cinema chupando um Drops de Anis...

    E eu continuo aqui, na Tok Empreendimentos, rua Cristal, 120, Centro...    

 

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