O cemitério druso

Raimundo Bechelaine

O ser humano é admirável. O salmo número oito contém um grande elogio antropológico. Diz que Deus coroou o homem de honra e glória e o colocou pouco abaixo dos anjos. Mas convenhamos que é também um ser complicado. Certamente o mais complicado.

Ou seja, nós somos seres muito complicados. Daí, que nossa convivência é sempre difícil. Em todas as atividades, criamos divisões, suspeitas, preconceitos, exclusões e perseguições. Nos costumes, nas ideias, nas ciências, na economia e até nas artes. Porém muito especialmente na política e na religião. Aí proliferam partidos, ideologias e sectarismos.

Os drusos formam uma seita pouco conhecida. São uma das pequenas comunidades religiosas do Oriente Médio, especialmente no Líbano e na Síria, na Jordânia e Turquia. Muitos vieram para o Brasil. Alguns chegaram a Divinópolis, Oliveira, Carmo do Cajuru e possivelmente a outras localidades em nossa região, em meio à imigração árabe. Temos entre nós descendentes deles.

Surgiram em torno do século décimo. Seus fundadores mais conhecidos foram o líder Hameza Ali Amade e o califa Aláqueme Biamir. Praticam extrema discrição (taquiyya, ou dissimulação) quanto aos seus costumes, doutrinas, textos e ritos. Por isso, não é fácil identificá-los. Alguns estudiosos dizem que não passam de 800 mil em todo o mundo. Outros afirmam que eles chegam a dois milhões. Suas crenças resultam da fusão de doutrinas gnósticas, islâmicas, cristãs e teorias extraídas da filosofia grega.

Chegou ao nosso conhecimento a existência de um cemitério druso, na vizinha cidade de Oliveira. Dia 27 de dezembro passado, lá estivemos. Sobre o portão do pequeno cemitério, há um letreiro gravado em pedra, nos idiomas árabe e português, identificando o local. Acompanhavam-nos o reverendíssimo padre Helton Rodrigues, da Paróquia de Nossa Senhora do Líbano, o sr. Célio Cordeiro, funcionário municipal destacado para o Museu e Arquivo Sacro-Histórico da Paróquia de Nossa Senhora do Carmo e o fotógrafo Jaime Mileib, todos de Carmo do Cajuru. Tivemos a gentil companhia e assessoria do casal Rita Franghe, libanesa, e Jesus Ibanez. Fomos amavelmente orientados pelo turismólogo oliveirense João Paulo Martins. Por fim, visitamos uma família de origem drusa, as irmãs Fatuma e Adla Mattar, zeladoras do local, e as sobrinhas Samira e Denise, que nos passaram algumas informações. Retornamos gratos por conhecer um raro marco histórico. [email protected]

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