O capitalismo compartilha!

Raimundo Bechelaine

Sábado passado, neste estado chamado das Minas Gerais, celebrava-se um aniversário vergonhoso e revoltante. Completou-se um ano do desastre ocorrido em Brumadino. Em 25 de janeiro de 2019, o rompimento da barragem de rejeitos do Córrego do Feijão, da mineradora Vale S.A., uma das maiores do mundo, estarrecia os brasileiros e a opinião pública internacional. Pior ainda. Era a repetição de outra tragédia, que mal havia completado três anos. Pois, em novembro de 2015, no município de Mariana, se havia rompido uma barragem da Samarco, da qual a Vale é uma das controladoras.

Ou seja, está claro que a irresponsabilidade e o descaso para com a vida dos trabalhadores e populações vizinhas e para com o meio ambiente não são acidentais. Resultam de uma prática empresarial bem sucedida. Noticia-se que, no ano passado, a Vale distribuiu R$ 7,2 bilhões como dividendos aos seus acionistas. Nada mal para os investidores. Bem mais do que despendeu até agora com as consequências da hecatombe de Brumadinho.

Problemas ligados à atividade mineradora, presente em vários municípios que integram a Diocese de Divinópolis, foram abordados pelo senhor bispo dom José Carlos em homilias, na quinta-feira santa, na Catedral, e, depois, nos santuários de Aparecida e da Serra da Piedade, nas peregrinações comemorativas do jubileu diamantino diocesano. Nossa cidade está, aliás, ligada a esses desastres, pois um destacado político divinopolitano foi mencionado, nos grandes jornais do país, como um dos integrantes da chamada “bancada da lama”. O citado fez a sua defesa.

Por triste coincidência, aquele infausto aniversário veio coincidir com mais algumas dezenas de mortes, provocadas pelas chuvas dos últimos dias. Pelas chuvas? Ora, mas cabem a elas a culpa e responsabilidade pelo confinamento dos pobres e suas moradias às favelas, às margens dos rios e às encostas das montanhas. 

Enfim, não se pode dizer que o sistema econômico, político e cultural denominado capitalismo seja apenas concentrador e jamais reparta. Sejamos justos e reconheçamos que o capitalismo faz, sim, as suas partilhas. Convenhamos, reparte sempre. Com os donos do capital, os lucros. Com os trabalhadores e o povo pobre, a destruição e a morte. Somados os desaparecidos e vítimas fatais ocasionados pelas duas barragens com as dezenas de afogados dos últimos dias, passam de trezentas mortes. Sem contar outros danos. [email protected]

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