O básico ainda é o desafio

Marcos Fábio 

Olá, caros leitores! Hoje nossa coluna é direto da Alemanha. Estou aqui com mais dois parceiros para a Euroshop, que acontece de 16 a 20 de fevereiro. Neste exato momento, me encontro em Dusseldorf, fazendo algumas visitas técnicas.

De tudo que pude perceber até agora aqui no varejo do velho mundo, uma coisa tem me chamado muito a atenção: as tecnologias disponíveis para ajudar o varejo a vencer o desafio diário da falta de mercadorias, acarretando a boa e velha perda de vendas.

Vamos fazer um teste rápido: quando você sai para fazer suas compras em um supermercado, você encontra todos os produtos que estava procurando ou foi “forçado” a levar outra marca porque a de sua preferência estava em falta? Se você encontrou tudo, parabéns, é um sujeito de sorte! Infelizmente não posso dizer o mesmo: ou não encontro a minha marca de água gasosa preferida ou o suco integral que gosto acabou ou a picanha está sem nenhuma gordura... Enfim, sempre falta algo.

Antes de embarcar para cá, dei uma volta pelas lojas de tênis em Divinópolis, procurando por um tênis de couro casual, afinal de contas, o objetivo era estar confortável para caminhar por aqui, no velho mundo, com o menor cansaço possível. Adivinhem o que aconteceu? Não encontrei! Ou achava de tecido ou não era couro legítimo ou não tinha meu tamanho. “Vou ficar te devendo”, essa foi a frase!

Três semanas atrás, cheguei a um supermercado próximo da minha casa com uma lista para um churrasco.

Cerveja, refrigerante, sal grosso, carvão... Tudo no carrinho. Faltava a carne. Quando cheguei à geladeira onde ficavam as carnes embaladas a vácuo, procurei por uma boa picanha! Boa picanha que se preze tem que ter uma boa camada de gordura, certo? E cadê a gordura? O jeito era ir a outro supermercado. Olhei para a fila enorme e pensei: “enfrentar essa fila para ter que sair daqui e ir a outro supermercado? Não vai rolar!”.

Deixei tudo para trás, sai da loja e fui a um supermercado concorrente.

Aprendi a lição e primeiro fui ao açougue, ou melhor, na área das carnes embaladas a vácuo e, por sorte, encontrei uma peça farta de gordura (era a última), mas a cerveja que queria não tinha. Acabei levando outra, afinal de contas, a carne era o mais importante.

Trago esse simples exemplo para lhes mostrar o quanto investe-se tempo em treinamento, atendimento, layout de loja, design, sendo que o básico ainda continua sendo deixado para trás: não deixar faltar mercadorias.

Sei que não podemos ter tudo e nem devemos querer ter tudo, mas observe atentamente e veja que, em muitos casos, o que falta são sempre itens básicos e de bom giro.

Certa vez, estava em Carlos Chagas, interior de Minas Gerais, para fazer uma palestra. O calor estava infernal e resolvi comprar uma camiseta branca para vestir por baixo da camisa social, para evitar que o suor manchasse a minha camisa. Saí na rua do comércio e pedi indicação de onde eu acharia o produto. Ao chegar à loja, por volta de 11h, me deparei com uma loja sem movimento, vazia, eu era o único cliente naquele momento. Quando a vendedora me viu, abriu um sorriso e deve ter pensado: “que bom, um cliente! Até que enfim!”. Ao ver a vendedora andando em minha direção como alguém que está vendo um oásis no deserto, perguntei:

— Você tem camiseta de malha branca tamanho M?

De uma hora para outra, aquele sorriso se transformou em decepção e ela, com uma cara triste, disse:

— Não, acabou! Pode ser outra? Azul, preta...

Olhei para ela e disse:

— Eu sei o que deve estar sentindo. Loja vazia, pouco movimento e, o único cliente que entra vem lhe pedir exatamente aquilo que acabou!

Enfim, fui embora e continuei a procurar pela camisa, até encontrar.

Novamente, a constatação da falta de atenção para uma boa gestão de estoques. Entretanto, se o que vi aqui ganhar escala, poderá deixar esse problema com os dias contados aí no Brasil. Se as técnicas como curvas ABC de vendas e estoques estão aí, mas sem serem usadas por todos, a tecnologia de RFID aplicada ao estoque com integração via sistema está vindo para auxiliar os varejistas a gerenciarem melhor o seu estoque para fazer o básico: ter e não deixar faltar aquilo que mais se vende.

Parece óbvio, não? Não! Esse assunto não tem nada de óbvio. A falta de mercadorias básicas, de bom giro, de marcas já reconhecidas ainda é um grande gargalo nas empresas. A estratégia é simples:

– Produtos da Curva A: jamais deixe faltar;

– Produtos da curva B: reponha quando necessário;

– Produtos da curva C: avalie se vale a pena continuar com ele.

Simples de falar, difícil de fazer, pois depende de o gestor lembrar-se de entrar no sistema, analisar dados e comprar.

“Sair fazendo e comprando pelo feeling é melhor e toma menos tempo!”

Essa é uma crença não muito inteligente que tenho visto por aí.

Espero que essa tecnologia realmente chegue ao Brasil para ser aplicada em larga escala, fazendo com que os gestores deem mais atenção a esse básico tão complexo de fazer!

E aí, gostou? Se você perdeu alguns de meus textos, acesse www.professormarcosfabio.com.br e vá à aba “coluna”. Lá você encontrará tudo que escrevo. Agora, se quiser falar comigo, fazer algum comentário ou mesmo sugerir um tema, fale comigo pelo [email protected].

Um grande abraço e “GutesWochenendeAllerseits” (bom fim de semana a todos em Alemão)!

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