O‌ ‌aspirante‌ ‌

Leila Rodrigues 

Era a minha primeira viagem corporativa. Eu iria representar a empresa em um congresso. E nada era mais importante que isso para mim naquele momento. Eu, auxiliar administrativo, aspirante a secretário da diretoria no início da carreira.

Eu estava visivelmente nervoso, mas procurava disfarçar atrás do meu óculos azul marinho. Dormi mal a noite anterior, ensaiava as frases de efeito, imaginava as pessoas que eu iria conhecer. Tudo muito novo e assustador para um jovem de 22 anos. Eu sonhava em chegar perto da presidente da companhia e ter uma boa conversa. Ela haveria de me ouvir, se encantar comigo e na segunda-feira seguinte eu seria o novo… o novo alguma coisa da corporação.

De volta ao chão, saímos daqui em uma segunda-feira de agosto de 2018. Em Belo Horizonte, encontraríamos no mesmo voo com a equipe do Nordeste que também ia para o congresso.

Por um erro dos deuses, me trocaram de assento no avião e fui realocado para a classe executiva. Radiante de felicidade! Na classe executiva estavam todos os diretores da corporação. Os diretores comerciais, a diretoria de produtos e ainda o alto escalão do marketing. Feliz como uma criança na roda-gigante, sentei-me ao lado de uma senhora muito elegante e me apresentei como auxiliar administrativo. Ela prontamente me respondeu “muito prazer, eu sou a diretora comercial do Nordeste, respondo pelos estados Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe e Alagoas”.

 A nossa viagem seguiu maravilhosamente bem. Aquela mulher era um poço de sabedoria. Falamos um pouco de tudo, de família a caviar (que eu não conhecia). Ela era inteligente e tinha senso de humor. Para dizer a verdade, nem vi a viagem passar. Quando o avião tocou o solo, nos preparamos para sair e eu me lembrei que não ainda sabia o nome dela. Já tinha algumas pessoas de pé, inclusive nós, e eu não me fiz de rogado. Perguntei qual era o seu nome ali mesmo, no meio do corredor.

Socorro. Foi o que ela disse. Ao ouvi-la falar socorro imediatamente pulei na sua frente e fui falando desembestadamente (se é que essa palavra existe):

“A senhora se machucou? Aconteceu alguma coisa? Ai, meu Deus, ela não está se sentindo bem! Alguém chame uma enfermeira!!!” (a esta altura eu já estava berrando).

Silêncio total no avião. Todos olhando para mim. Foi quando eu percebi que havia feito uma besteira das grandes.

Socorro é o meu nome, rapaz! Agora, por favor, me solte que eu preciso descer.

Vou confessar uma coisa, naquela noite eu não consegui dormir bem.

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