O Aldrabão

Laura Ferreira 

 

As exigências atuais que a globalização impõe aos jovens são pérfidas, uma vez que a competição está cada vez mais acirrada e a consequência por não atender aos paradigmas determinados é a marginalização social. 

Recordo-me da infância escolar, onde a professora, em sua onipotência, abarcava uma caneta vermelha que revestia as provas e atividades como o sangue do sumo mártire na cruz, o pânico diante do “X” amedrontava toda a classe que via no erro motivo de vergonha e perdiam a chance de aprender. Em contrapartida, a professora ornava aqueles que conseguiam o “C”, nota máxima. E os pais posicionavam-se condizentes ao método aplicado, pois o filho carregava o peso da realização e desejos do pai, o qual exalava a fragrância da superioridade diante daqueles que não se enquadravam, equiparado a um militar que ao subir no palanque exige a marcha em sua honra como também continências das patentes inferiores em meio ao desfile. 

Conforme a idade avança, as cobranças tendem a aumentar significativamente. O medo presente na infância torna-se motivo de desespero no ensino médio, onde é irrevogável estar preparado para passar de primeira nas provas das unidades acadêmicas e decidir qual caminho trilhar.  

Há aqueles que se preparam durante toda a vida e na hora de realizar tais provas o corpo começa a formigar, a visão fica turva e tremedeira toma conta do jovem concorrente que descobre o colapso causado pelo pânico. Outros adentram ao meio acadêmico com perplexa facilidade, porém descobrem o equívoco na escolha do curso e o que acontece inúmeras vezes é acarretar uma profunda depressão no aluno, pois ele não sabe lidar com o tempo e a oportunidade perdida, principalmente com as cobranças e decepções dos que estão ao redor.  

O tempo passa e, quando se percebe, vários colegas de infância estão comemorando a sonhada formatura. E você, o que fez? O que representa para a sociedade?  

Na atual conjuntura, os homens são vistos como meros objetos de utilidade, aos quais não correspondendo aos anseios impostos são jogados ao léu. Portanto, vem à tona a consciência de que o tempo visto como inimigo pode tornar-se cúmplice fiel, pois eliminando todas as possibilidades oferecidas é capaz de evidenciar os anseios reprimidos. E a partir de então, as pessoas realizadas ressuscitam do calvário e autênticas oferecem o amor por aquilo que exercem, independente de status, dinheiro ou posição social.  

É melhor pivotar e descobrir sua essência ou viver eternamente como o artífice aldrabão?  

[email protected] 

Comentários