Número de infectados por HIV sobe 112% em Minas

Maria Tereza Oliveira

Não faz tanto tempo que a “epidemia da Aids” era considerada letal. Nas décadas de 1980 e 1990 a doença matou inúmeras pessoas, fossem elas anônimas ou celebridades. Por muito tempo, a Aids, assim como outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s), era amplamente debatida e temida. Porém, com a evolução da ciência, apesar de ainda não ter cura para a Aids, a medicina proporcionou ao infectado com HIV, expectativa e qualidade de vida maior.

Entretanto, apesar das inovações na medicina, jovens que não testemunharam o auge da infecção do HIV têm deixado a prevenção de lado. O resultado é uma crescente nos casos de pessoas infectadas. Em nível estadual, nos últimos 20 anos, houve um aumento de 112% nos casos de HIV, conforme informações da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). Já em Divinópolis, atualmente, são quase dois mil pacientes em tratamento, segundo os dados da Secretaria Municipal de Saúde (Semusa).

Profissional

O Agora entrevistou o clínico geral, que inclusive realiza atendimentos na Policlínica, Flávio Antônio Marcelino Alves. Ele esclareceu dúvidas relacionadas ao tema e relatou que apesar do avanço dos medicamentos, a doença ainda é letal.

— Essa evolução dá uma sensação de que a doença pode ser controlada e isso pode ter levado as pessoas a se exporem mais sem medo. Há a sensação de que o risco já não é tão grande, de que está controlada e que ninguém vai morrer por causa da Aids — apontou.

O médico destacou que, mais do que os medicamentos, o que fez a diferença no tratamento do HIV foi o diagnóstico e, consequentemente, o tratamento mais precoce.

— Iniciar a medicação antes que a Aids “detone” o sistema imunológico ajudou muito. Os protocolos médicos mudaram muito neste sentido. Isso fez com que a doença tivesse um controle maior, mas não quer dizer que ela não mata — alertou.

Tabus

O HIV é cercado de tabus. A ignorância sobre o assunto acarreta que soropositivos ainda sejam vítimas de preconceitos e receio. Muitas pessoas ainda têm opiniões equivocadas sobre como o vírus é transmitido.

— Uma pessoa, mesmo portadora do HIV, pode ter uma vida conjugal normal, vai depender da carga viral — esclareceu o médico.

Ao longo dos anos, o tratamento antirretroviral tem se mostrado altamente eficaz. Por esse motivo, hoje, a maior parte das pessoas que vivem com HIV e seguem o tratamento adequado, conseguem atingir a chamada “carga viral indetectável”. 

Na prática, isso significa que uma pessoa vivendo com HIV e com carga viral indetectável não transmite o vírus sexualmente.

HIV x Aids

Ao contrário do que se imagina, nem todas as pessoas portadoras do vírus HIV desenvolvem a Aids. Porém, como explicou Marcelino, a maioria absoluta das pessoas com a infecção, se não tratar, entre três e cinco anos, terá o quadro clínico evoluído para Aids.

Para evitar complicações é necessário estar atento e manter os exames de sangue em dia.

— É importante salientar que o HIV é uma infecção silenciosa — alertou.

Transmissão

Relação sexual desprotegidas ainda é a forma mais comum de transmissão do HIV. Todavia, Marcelino alertou que, apesar de raras, há outras formas de transmissão, como por exemplo, em transfusões de sangue ou compartilhamento de seringas, principalmente no uso de drogas injetáveis.

O método mais eficaz é também o mais simples: o uso da camisinha. Porém, nem todo mundo utiliza o preservativo. São várias as justificativas para o uso do preservativo, ignorando o risco de contágio.

Porém, uma forma considerada eficaz, mesmo após ser exposto ao HIV, é através da Profilaxia Pós Exposição (PEP).

O PEP trata-se de uma forma de prevenção da infecção pelo HIV usando os medicamentos que fazem parte do coquetel utilizado no tratamento da Aids, para pessoas que possam ter entrado em contato com o vírus recentemente.

Para ter sucesso no tratamento, é necessário que o paciente tome os remédios durante 28 dias, sem interrupção, para impedir a infecção pelo vírus, sempre com orientação médica.

Essa forma de prevenção já é usada com eficácia nos casos de violência sexual e de profissionais de saúde que se acidentam com agulhas e outros objetos cortantes contaminados, como aponta a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Números

De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (SES), nos últimos 20 anos o índice de infectados pelo HIV aumentou 112%. Isso quer dizer que em 1999 em Minas eram 1.570 casos registrados. Neste ano, o número de registros saltou para 3.344, uma média de 11 por dia.

Em Divinópolis, 1.976 pacientes estão em tratamento contra o vírus. Só em 2019, de acordo com a Prefeitura, 163 pessoas foram diagnosticadas.

Dentre as pessoas em tratamento, 29 são gestantes, 10 crianças veticalmente expostas (que há grandes chances de serem infectadas) e seis crianças em tratamento.

Como explicou o médico, nem todas as gestantes transmitem a infecção aos filhos. Caso a mãe inicie o tratamento no início da gestação, as chances de transmissão para o bebê caem de 35% para 3%.

A SES revelou que pessoas com idades entre 20 e 34 anos foram as que mais contraíram o vírus HIV.

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