Numa conversa de bar

No último sábado, encontrei um amigo e, com os devidos cuidados, saímos para tomar uma cerveja, com uma boa conversa de tira-gosto. Teve de tudo um pouco: assuntos apimentados, outros mornos, os quentes; mas sem passar do ponto.

Entre um gole e outro, falávamos de covid, possíveis teorias de conspiração e, é claro, da humanidade ‒ da direção que o mundo toma pós-pandemia. Falamos muito sobre a necessidade da aplicação da equidade nesse momento tão crucial.

Pouco adianta se eu, você e outro tomarmos a vacina se, no fim das contas, “todos” não forem vacinados. Pouco adiantará se esse ritmo de vacinação não for uniforme entre as nações. A falta de um movimento conjunto e bem planejado potencializa o risco de novas variantes do vírus ‒ o que pode expor todo mundo, os que estão vacinados e os que ainda não foram.

Desde dezembro, foram aplicadas mais de 1,7 bilhão de doses de vacinas contra o coronavírus em 189 países, segundo levantamento da Universidade de Oxford. 

Esses números demonstram que a pandemia está longe de ser estabilizada e tampouco está próxima do fim. Toda vacinação, segundo especialistas, é uma forma de prevenção coletiva. Enquanto o mundo não atingir índices acima dos 70% de toda a população vacinada, todos correm riscos.

No bar, conversa vai, conversa vem, e uma conclusão:

em vez de ampliar as ações que permitam uma melhor equidade na distribuição de vacinas no mundo – como a quebra de patentes, transferência de tecnologia e repasse de doses excedentes, dos países ricos para os países mais pobres – o que se vê é país desenvolvido fechando fronteira.

Estão criando uma nova classificação do indivíduo: o do vacinado. E, neste caso, não é qualquer um que acessa a Europa, por exemplo. Tem que estar vacinado com as vacinas aceitas, até então, pela União Europeia, ou seja, até mesmo entre os vacinados há o subindivíduo.

Como meu amigo me explicava na conversa de bar, esse é um ledo engano. O mundo é globalizado, e nenhum país é autossuficiente a ponto de não depender do outro. De parafusos a carros, tudo é importado. E, mesmo que entrem pela porta dos fundos, longe das vistas da maioria, o que será consumido chega de navio ou avião e de carona pode vir uma nova cepa do vírus. Por que não?

Fechar países é uma medida paliativa e que não resolve o problema que estamos atravessando. Os governos terão que se ajudar e, principalmente, amparar os países mais pobres, que em muitos casos não dispõem de recursos e de condições sanitárias adequadas para vencer a covid.

A pandemia levou mais de 3 milhões de vidas, uma quantidade quase incomensurável de vítimas. Agora, novos dados sugerem que o verdadeiro número global de mortes pela covid-19 pode ter sido grosseiramente subnotificado.

O Sars-CoV-2 matou 6,9 milhões de pessoas, mais do que o dobro dos 3,2 milhões de mortes oficialmente relatadas em todo o mundo, de acordo com análises do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde (Ihme), da Universidade de Washington, nos Estados Unidos. Essa informação é dada pela CNN.

Tem gente ganhando bilhões com a pandemia. Mas esse é o tipo da desgraça mundial que não pode se estender porque dá dinheiro e a razão é simples: vida não tem preço.

Fim de conversa. Fecha a conta.

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