Nos tempos de epitácio

Em 2 de janeiro de 1919, o paraibano Epitácio Pessoa partia do Brasil para representá-lo, como chefe da Delegação Brasileira, na Conferência de Paz, em Versalhes. Sobre seu desempenho, comenta o historiador Pedro Calmon, que o fez com galhardia, defendendo a igualdade das soberanias, induzindo às maiores potências aceitassem a participação de quatro menores no Conselho de Segurança da Sociedade das Nações, doutrina que ainda persiste, quanto ao assento do Brasil no Conselho de Segurança da ONU. A 28 de julho desse ano recebia, do vice-presidente Delfim Moreira, as rédeas da nação.

Jogo de circunstâncias políticas internas, a primeira delas o falecimento do titular, Rodrigues Alves (SP), o qual não chegara tomar posse, o levaram a permanecer no cargo. Eram tempos de convenções nacionais para indicação de candidaturas à Presidência da República. Borges de Medeiros vetou o nome do paulista Altino Arantes, e outros surgiam, dentro mesmo esquema do café com leite. O de Rui Barbosa era lançado, obtendo Epitácio esmagadora vitória, em Convenção, solenemente verificada em fevereiro, no Senado Federal, confirmada, posteriormente, nas novas eleições presidenciais.

Para Calmon, deu-se início um governo forte, “austero, valente e perseverante, acima de tudo intransigente”. A nomeação do civil Pandiá Calógeras, para Ministro da Guerra, que o diga. Enfrentou duras situações de rebeldia militar, sem se deixar atemorizar; construiu 500 quilômetros de ferrovia e centenas de barragens e poços no nordeste. A revogação do banimento da Família Imperial e a consequente vinda de seus despojos, provando que não mais caberiam ressentimentos contra a velha ordem. Preparava-se, assim, um amistoso clima com Portugal, em face do 1º Centenário da Independência, que se avizinhava.

As comemorações não foram pomposas, dentro dos meios permissíveis na época.  Centralizaram-se mais no Rio de Janeiro, onde com a presença do rei da Bélgica, dentro de uma atmosfera festiva, foram marcadas com a Exposição Internacional, a 7 de Setembro,de modo a deslumbrar a quem a visitassem. Quando do Sesquicentenário, em 1972, grandes e pequenas cidades se deixaram atrair pela enganosa propaganda da ditadura Médici, enquanto patrícios eram mortos, torturados e perseguidos.

Hoje, com a população ideologicamente dividida, soberania fragilizada, patrimônio público vilipendiado, por conta de governantes sem compromisso com a Pátria, em 2022 assistiremos aos 200 anos de emancipação política. Onde estão os Institutos Históricos para alertarem contra essa obscuridade? Tal omissão é perfeito esquecimento do passado.

Jornalista

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