Noites de junho

Augusto Fidelis

 Quão maravilhoso é olhar para o céu nas noites de junho. Às vezes há lua cheia, às vezes não, mas Saturno está lá exibindo seus aneis, todos de ouro maciço com pedrinhas de brilhantes. Quanta riqueza, meu Deus! Ah! Tem aquele frio bom que induz à canjica e ao quentão, provoca o desejo de se aquecer junto à fogueira, de ouvir os causos dos tempos antigos, nos quais vovó dava ênfase à aparição das assombrações.

E por falar em noites de junho, São João bate à porta e traz na bagagem aquela nostalgia de uma época que não volta mais. Aliás, sem querer mudar de assunto, peço a atenção do estimado leitor, da caríssima leitora, para um assunto que talvez não tenha se atentado até o presente momento. A noite de São João é tempo oportuno para se consultar Mãe Lundinha, pois ela mostra ao consulente o passado, o presente e o futuro, tudo na cuia d’água, sem cobrar um tostão sequer. Pede apenas um agrado.

Inclusive, faz um ano que o meu amigo Zé Maria foi à casa da Mãe Lundinha, para clarear um assunto que fervia os seus miolos. Adentrou a sala todo afoito e sem delonga expôs o seu problema:

- Mãe Lundinha, namoro uma menina linda, boazuda, pela qual sou apaixonado, mas desconfio que ela me trai.

- Misifio ainda desconfia?

- Mãe Lundinha, já sabe de alguma coisa? Estou ficando desesperado!

- Num falo nada, mostro no fundo da cuia d’água.

Depois de olhar bem nos olhos de Zé Maria, Mãe Lundinha dirigiu-se ao interior da casa, voltando em seguida com a tal cuia, acompanhada de um sujeito de quase dois metros de altura, munido de um porrete, que se colocou junto à porta de entrada.

- O que é isso Mãe Lundinha? Que sujeito é esse?

- Mané Disabusa Nego

- Mas que água suja é essa, Mãe Lundinha, como se pode ver qualquer coisa aí?

- Só num inxerga quem num qué vê!

- Pá gente cumeçá, põe cem real na mão de Mané, ele gosta de agrado. Se num pô Mané fica zangado e Nega Veia num responsabiliza.

- Cem reais, Mãe Lundinha, está caro demais!

- Hum!... Hum!... Hum!... Êpa, vai começá a furunfação. Já tão furunfando!

- O quê, Mãe Lundinha, minha namorada está me traindo? Com quem, Mãe Lundinha?!

- Põe mais cem real na mão de Mané, é só um agrado!

- De jeito nenhum, Mãe Lundinha, isso é um absurdo.

- Põe mais cem real na mão de Mané e vai, misifio, porque quem furunfou, furunfou. Quem num furunfou, furunfasse. Nega veia num faia. É só consultá!

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