Nenhum é o ideal, afirma bispo

 

Maria Tereza Oliveira

A Diocese de Divinópolis divulgou na última terça-feira, 23, um texto do bispo Dom José Carlos Campos, comentando a atual situação política do país. O artigo começa com uma citação a um trecho do dicionário de Teologia Moral, Paulus, de 1997. A passagem faz referência ao voto consciente que deve partir de uma reflexão coletiva e não no interesse privado, lealdade a um partido ou nada que sobreponha o problema central.

Durante a campanha eleitoral, muitos chefes de igrejas tomaram partido e apoiaram candidatos, cada qual com suas justificativas. Em todos os casos houve críticas e elogios. O debate acerca do assunto rendeu tanto que até o papa Francisco se posicionou sobre as eleições do país.

Dom José Carlos afirmou que a consciência dos cristãos apontaria para outros nomes, outras propostas, outros projetos sociais, outras formas de fazer política e de fazer campanha.

— Em reta final de campanha eleitoral, num segundo turno para escolher o presidente do Brasil e muitos governadores dos estados, colocamo-nos estarrecidos diante das opções que temos — salientou.

O bispo destacou que a campanha presidencial foi marcada principalmente por dois entraves.

— Faltaram os sadios confrontos de propostas pela via de debates inteligentes e participativos e, e sobraram “fake news” (notícias falsas), “old news” (notícias antigas), “bad news” (notícias ruins) — realçou.

De acordo com ele, faltaram boas notícias, palavras e projetos portadores de esperanças genuínas, de respostas críveis ao grave cenário do nosso país.

— Não é fácil acreditar que aquilo que outrora prometido e não realizado ou os comportamentos políticos que mataram esperanças, irão se tornar agora realidade boa e séria pelos empenhos dos mesmos personagens — opinou.

Dom José disse que as agendas de ambos presidenciáveis têm algumas intenções cheias de pontos contestáveis, problemáticos e anticristãos.

— Não é fácil apostar em quem não fez muito em âmbito menor e promete fazer muito em maior. Não é fácil acreditar em quem promete quase tudo como se dependesse de uma única caneta ou vontade — assinalou.

Difícil escolha

Para o bispo, o país terá de decidir entre o conhecido, que não concorda em alguns aspectos, e o desconhecido, que não sabe para onde levará os pobres e o país.

— O certo é que nenhum dos dois candidatos aprendeu a fazer política, a pensar o bem comum e a enxergar a pessoa humana na escola do Evangelho, na escuta e na experiência de Jesus — destacou.

Apesar das críticas aos dois candidatos, o religioso reafirmou a importância de votar.

— Escolher é um dever. Acompanhar os eleitos, criticar, exigir, vigiar, excluir, rezar, crescer em cidadania e civismo são atitudes permanentes nas quais precisamos persistir e que nos educarão até as próximas eleições — aconselhou.

Sermão

Essa não foi a primeira vez que o bispo manifestou-se durante o 2º turno das eleições. No último dia 12, a diocese postou um vídeo em que o religioso comentou o tema ao longo do sermão de uma missa.

De acordo com ele, nenhum candidato representa genuinamente a Igreja e o evangelho de Cristo.

— Confesso que estamos muito aquém do que devemos, isto é, não formamos ainda lideranças sadias, maduras e competentes para em nome da Igreja e com o apoio dela, um dia cheguemos ao ideal — disse.

Dom José disse que aqueles que chegam até os cristãos, independente de suas origens religiosas e partidárias, devem ser escolhidos.

— Temos de ler nos candidatos elementos que de fato comprovem que seus planos ajudem a construir o reino de Deus na Terra. Para saber o que precisa ser feito, basta olhar para Jesus — aconselhou.

Segundo ele, a postura de Jesus de cuidado e de zelo, além da cultura que se cria ao redor dele devem ser os critérios de escolha.

— Políticos e políticas que são contra o Evangelho não nos servem. O que não significa que os bons sejam aqueles que falam de Deus. Não basta falar, é preciso pensar e refletir como Deus queria que fosse o rumo da sociedade — salientou.

CNBB

O Conselho Episcopal Pastoral (Consep) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) também opinou sobre o assunto. Em nota, a CNBB pediu para que a democracia, assim como os valores, como justiça e paz social sejam preservados.

— Estimulamos que se tirem armas de ódio e de vingança que têm gerado um clima de violência, estimulado por notícias falsas, discursos e posturas radicais, que colocam em risco as bases democráticas da sociedade brasileira — cita a nota.

A CNBB se colocou contra qualquer tipo de discurso intolerante.

— Toda atitude que incita à divisão, à discriminação, à intolerância e à violência, deve ser superada. Revistamo-nos, portanto, do amor e da reconciliação, e trilhemos o caminho da paz — salientou.

 

 

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