Não tem do que reclamar

Uma das características do povo brasileiro é deixar para resolver tudo depois, em cima da hora. Somos conhecidos mundialmente pelo nosso “jeitinho brasileiro”, aquele que sempre remedia e nunca previne. Não trabalhamos com prevenção, mas apenas para solucionar o problema, não para evitá-lo. E é assim, com esse jeitinho, que o povo leva a política, a corrupção, seus direitos e deveres também. Só tomamos algum tipo de atitude quando a coisa já está muito feia. Em Divinópolis não é diferente. A população só cobra seus direitos quando eles estão perto de ser extintos ou quando já foram, e vão para as ruas, para a Câmara ou à Prefeitura cobrar.

Até que a coisa fique feia, ela “corre solta” por aí. O exemplo disso temos com a revisão da Planta de Valores do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). A última vez em que a Câmara foi lotada pelo povo foi em 29 de dezembro de 2017, quando os vereadores votariam a revisão da planilha. Mas foi preciso que um grupo de WhatsApp mobilizasse o protesto para que ele desse certo.

De lá para cá, o plenário do Poder Legislativo só fica cheio quando é uma pauta específica que atinge ou interessa determinada categoria. Do contrário, tanto as reuniões ordinárias quanto os corredores da em dias comuns ficam vazios, ou melhor, têm um aqui, outro ali, que vai lá para pedir emprego, ajuda financeira ou qualquer outro tipo de auxílio aos vereadores. Com as reuniões e votações não é diferente. Até que determinada pauta atinja um segmento, o povo não consegue se mobilizar e é literalmente “cada um por si e Deus por todos”.  Assim, Divinópolis segue sem rumo, sem cobrança específica, sem alguém para acompanhar. E, com isso, os vereadores fazem o que querem, quando querem. Não há organização.

Os problemas em Divinópolis são resolvidos mais ou menos assim: ninguém acompanha nada, até que aporta um projeto que prejudica determinado segmento e meia dúzia de pessoas ocupa a Câmara. Elas encurralam os vereadores, que escorregam mais que quiabo. Até mesmo os que tinham um posicionamento, depois de encurralados, agora têm outro. Os parlamentares gravam vídeos, vão para a internet, outra meia dúzia de eleitores apoiam a causa sem o conhecimento certo, sem ouvir todos os lados, encurralam a Prefeitura, e pronto, a situação está resolvida. Depois disso, ninguém nunca mais coloca os pés no Poder Legislativo, e serve única e puramente como massa de manobra, para vereador fazer politicagem. Os mesmos que reclamam da corrupção e da velha política viram palhaços na mão de político.

Já aqueles que se organizam, como os empresários da cidade, com o seu Grupo Gestor, são defendidos com unhas e dentes, só mandando os pedidos ou solicitando-os por meio de reuniões fora da Câmara. Afinal, são um grupo forte, unido, organizado, que sabe o que quer, sabe o que, como e de quem cobrar. E não há nenhuma má vontade em atendê-los. Pois,  o resultado não vem somente para o povo com a geração de empregos, por exemplo. O político também, nem todos, costuma se beneficiar. Mas, este retorno imediato aos empresários, serve pelo menos para mostrar que,  se não há organização, não tem como cobrar, não se encontra um caminho certo a seguir. E, quando se não tem um caminho certo, qualquer um serve. Depois, não vale reclamar do destino, afinal tudo foi resolvido com aquele “jeitinho brasileiro”.

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