Mundo da arte (3)

Todo artista tem de ir até onde o povo está, canta Milton Nascimento. Se foi assim, assim será. Foi nas esquinas da vida que o teatro começou: malabarismos, pernas de pau, acrobacias, presença de palhaços. À semelhança do profissional de futebol, o artista interage, vê, sente, expõe-se ao vexame ou à fama. Dos píncaros ao ostracismo. Da glória ao esquecimento. Vem de Shakespeare a Brecht. Os clássicos, justamente por serem considerados clássicos, não envelhecem. O artista, um fingidor, não se envergonha de, interpretando, vender o seu peixe. Frequentemente, sem constrangimento, vai ao fundo do baú de suas vivências e faz de conta que é outra pessoa. Os contos de fadas bem como as tragédias têm sua vertente psicanalítica. Era uma vez...
O tempo passa. Mais: o tempo voa... E eles, os clássicos, continuam com lugar reservado na arquitetura, na pintura, na escultura, na literatura, na música. Independentemente do estilo, ou porque criaram um estilo ou porque, sem se prenderem a um determinado estilo, foram ecléticos, no bom sentido. Romeu e Julieta ainda continuam símbolo imortal do amor eterno.
"Os romances, contos, novelas e peças de teatro de Alexandre Dumas andam até hoje pelos palcos, quer os dos modestos mambembes, que se exibem em humildes e improvisados pavilhões, quer os das casas de espetáculos mais sofisticadas”, escreve Mário da Silva Brito, em seu Diário Intemporal. O teatro mambembe surgiu no século XII, Idade Média. Também eram chamados de saltimbancos, do italiano, “saltare in banco”, pular sobre um banco. Sobreviviam de passar o chapéu, de cidade em cidade. Em “Beatriz”, olha... Se o arcanjo passar o chapéu.
De momento, outros recados me afloram, à solta, da produção artística: Tu sabes bem que em meu barco eu não tenho nem ouro nem espadas. Somente redes furadas de fisgar palavras. Sem bolsa, sem alforje, sem alparcas nos pés... Sem lenço nem documento. Caminhando e cantando...
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