Moral Pirata

Domingos Sávio Calixto 

Em tempos pandêmicos e crisiáticos, seguramente trágicos, muitas coisas vêm à tona e tornam claras as falseabilidades de moralistas de araque.

Há até aqueles que se aproveitam inclusive do demônio, desafortunadamente incomodado pela crendice econômica garantidora de vultosos dízimos-cota via reino dos céus.

Ocorre que o desideratum é vasto e os moralistas sem moral podem se revelar demoniacamente por detalhes que nem o próprio diabo poderia imaginar, à custa dos mais variados ardis e artifícios aplicados.

O mundo está testemunhando a mais recente prática dos moralistas sem moral no pleno exercício da sua falta de caráter, mesmo que costumeira, mas ainda assim inovadora.

Países que exigem respeito quanto às suas marcas estão praticando pirataria de equipamentos e utensílios hospitalares básicos – como máscaras – e deles se apropriando em nome do Estado. Agem de forma tão capitalista em favor do “seu” Estado quanto os comunistas que tanto criticam.

O moralista “tio Sam” foi acusado na Europa de ter desviado em seu proveito 200 mil máscaras que seriam destinadas à Alemanha, as quais teriam sido “confiscadas” na Tailândia e desviadas para os EUA. Também foram confiscadas outras 130 mil máscaras cirúrgicas e 600 mil luvas em atos de “pirataria”.

Além disso, os EUA estão proibindo a exportação de produtos médicos, mediante uma legislação empregada em períodos de guerra. O presidente moralista americano alega que está fazendo uso da lei (?) para garantir a demanda do seu país.

Ora, desde quando esses moralistas se lembram da lei, se não em seu próprio benefício?

Uma compra de 600 aspiradores artificiais – encomendadas pelos estados do nordeste brasileiro – ficou “retida” no aeroporto de Miami. Trata-se de uma carga valorada em R$ 42 milhões e pela qual o estado da Bahia, ao que parece, vai ter que esperar para outras gerações.

Caem-se lentamente as máscaras da hipocrisia estampada na inexistência do estado liberal, o tal estado mínimo, a não ser naquilo que ele sabe fazer de melhor, que é proteger a fortuna do grande capital. Muitas pessoas já morreram e outras mais ainda morrerão em sacrifício nos altares que este, o Estado minúsculo e picareta, construiu em louvor ao deus dinheiro.

Com ou sem jejum.

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