Miragem

Preto no Branco

É 16 de janeiro. Nos últimos dois meses do ano passado, o Governo do Estado só falava em uma coisa: a necessidade de os deputados estaduais autorizarem a venda dos créditos do nióbio. O intuito era fazer a operação na Bolsa de Valores ainda em 2019 e garantir o pagamento integral do 13º salário de todos os servidores e extinguir o parcelamento salarial por, no mínimo, sete meses. Os parlamentares cumpriram sua “responsabilidade” e aprovaram a proposta em 4 de dezembro. No entanto, o leilão do nióbio não foi colocado em prática. A água no deserto era apenas um delírio.

Em breve...

Essa é a promessa do anunciado pelo governador Romeu Zema (Novo) em suas redes sociais. Em vídeo divulgado nesta terça-feira, 14, ele disse: “nós estamos trabalhando muito para agilizarmos essa operação”. Mas a miragem continua, enquanto o governador completa sua fala: “não temos ainda, infelizmente, uma data definida, mas estamos correndo dia e noite para que ela [operação] saia o quanto antes”. E, assim, já são quase dois meses de espera...

Em breve – parte 2

O governador ainda volta a reforçar que ele e sua equipe estão empenhados em assegurar o recurso: “A operação com o nióbio está caminhando bem. Todos os esforços estarão sendo feitos, nossa previsão é que isso venha acontecer em breve, mas ainda não tenho uma previsão definida”. Em breve... Em breve... As contas chegam com data, já os salários parcelados, e com o sonho distante de, um dia, serem pagos integralmente. Romeu Zema ainda destaca no vídeo que, para 60% do funcionalismo, pagou 14 salários, pois, além dos 13 pagamentos de 2019, precisou quitar o 13º salário da gestão de Fernando Pimentel (PT). O governador também cita os R$ 34 bilhões em restos a pagar deixados pela última administração. É 16 de janeiro. Os salários ainda são parcelados, assim com o 13º. É 16 de janeiro, e tudo parece igual.

Parados no tempo

É 16 de janeiro. E, como sempre, a preocupação no início do ano continua sendo a mesma na área da saúde: a dengue. O último boletim epidemiológico, divulgado na terça-feira pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), aponta para 677 casos suspeitos de dengue em Minas Gerais – uma média de 48 por dia. Em Divinópolis, são quatro notificações até o momento. Não há mistério: o combate continua sendo o mesmo, porém a negligência por parte de alguns cidadãos também não mudou. Atitudes simples poderiam eliminar essa preocupação. Mas não é só a água que está parada, parte de nós também está. Enfrentamos uma doença fácil de ser combatida todos os anos. É 16 de janeiro, e tudo parece igual.

Caixa eleitoral?

As contas da Prefeitura estarão reforças neste ano de 2020. Curiosamente, o prefeito Galileu Machado (MDB) terá à disposição os recursos que necessita para fazes suas tão sonhadas obras. Ruas, pontes e o que mais sua imaginação desejar. Os vereadores (em sua maioria base do prefeito) aprovaram a contratação de R$ 40 milhões em empréstimos. Além disso, o Executivo começará a receber parte da dívida milionária do Estado. A autorização foi aprovada por dez votos favoráveis. Apenas Janete Aparecida (PSD), Matheus Costa (CDN), Sargento Elton (Patriota), Edsom Sousa (MDB) e Roger Viegas (Pros) votaram contra a abertura do crédito. Segundo eles, a verba seria utilizada para obras em ano eleitoral. É verdade. O prefeito teve quatro anos para solicitar o empréstimo, mas deixou para fazê-lo quando pode se reeleger. Coincidência?

Críticas à oposição

E a Prefeitura se irritou com os votos contrários ao empréstimo. Em nota enviada ontem à tarde à imprensa, o Executivo classificou a oposição dos cinco vereadores como “um dos capítulos mais tristes e deploráveis da história política de Divinópolis” e disse que os edis “colocaram seus interesses mesquinhos e eleitoreiros acima do bem comum”. A Administração promete investir a verba para acabar com os buracos nas ruas da cidade. “[usam] o problema como palanque e dele tirar proveito. Logo eles, os maiores críticos dos problemas dos buracos nas ruas. Lobos disfarçados na pele de cordeiros”, acusa a Prefeitura.

“Mais uma vez o  bem prevaleceu”, finalizou a Prefeitura. Ou seja, quem contraria os interesses do Executivo se torna inimigo. Pode ser que algumas das suspeitas sejam verdadeiras. Sem os buracos e os outros problemas na cidade, parte dos edis não teriam material para vídeos. Vídeos em UPA vazia, em rua em perfeito estado não rendem visualizações. Mas as suspeitas dos vereadores também podem se confirmar: o prefeito pode usar as obras realizadas neste ano para maquiar três anos conturbados. É 16 de janeiro, e tudo parece igual.

 

 

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