Minha árvore de Natal terá seis bolas a menos

Fernanda Vargas

Quando crianças, todos os anos, esperávamos ansiosos o mês de dezembro para ver a árvore de Natal ser decorada. As árvores eram feitas, geralmente, de galhos secos ou de pinheiros que pegávamos na zona rural. Tudo era bem artesanal, e nossas tias, avós ou mães iam decorando a árvore com lindas bolas vermelhas, algodão e finalizavam com uma estrela. Era um momento encantador, pois ainda sabíamos contemplar o belo. Meu avô paterno colocava músicas natalinas na antiga radiola e a vida era tão simples, descomplicada e muito feliz.

Com o tempo tudo vai se complicando, talvez por perdermos um pouco o brilho e o encanto pela vida. Crescemos, casamos, temos nossos filhos, eles abandonam seus ninhos e alçam voos sozinhos, as famílias vão tendo as primeiras separações, primeiras perdas de entes queridos e vimos com olhos tristes nossos avós envelhecerem a cada Natal.

Ao iniciar a faculdade, tive minha primeira e própria árvore de Natal e, para enfeitá-la, pensei em cada familiar e amigo importante em minha vida e comprei uma bola para representar cada uma destas pessoas. À medida que o tempo passava, mais bolas eu adicionava em minha árvore. Eram tantas bolas, tantos amigos e parentes queridos que minha árvore era bem mais vermelha que verde.

Há dezessete anos, minha árvore perdeu a primeira bola: eu não tinha mais o meu avô paterno naquele Natal. Os anos se passaram e pessoas muito especiais foram partindo e minha árvore ia ficando cada vez mais vazia. O pior Natal da minha vida foi há seis anos, em 2014, quando ao montar a minha árvore, uma das bolas mais belas não estava mais presente: Minha amada e inesquecível sogra, Dona Geralda. E quanto mais os anos passavam, mais bolas fui retirando, como meus amigos Igor, Toninho, o querido Fanta e, como se a dor não pudesse aumentar perdi meu segundo avô paterno.

A vida continua nos surpreendendo e às vezes nos assustando. Quando você pensa que não dá mais para sofrer a vida te mostra que sim, que é possível sim, sofrer mais ainda. Este ano retirei uma bola linda, era uma das menores e ao mesmo tempo maiores. Menor por ser a avó “pequeninha e invocada” e grande por ter sido uma Grande Mulher: Francisca Vargas. Este Natal vai doer demais…

Infelizmente, a minha família não tem aumentado como eu gostaria, mas esse ano tenho uma bolinha pequenina para colocar: Minha primeira sobrinha neta: Jade. E essas “pessoinhas” que entram em nossas vidas precisam do nosso sorriso e precisam crescer felizes como um dia fomos também. Não podemos deixar que a tristeza dos anos com as bolas que retiramos de nossas árvores atrapalhem o Natal de pessoas que ainda só enxergam brilho e coisas boas e assim, nos dão motivos para seguirmos caminhando e cantando.

Faça do seu Natal um motivo para celebrar a vida dos que ainda estão conosco. Vamos tentar ser felizes com as bolas vermelhas que ainda temos. E deixar que as crianças possam correr e cantar.

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