Memórias marianas

Raimundo Bechelaine

A devoção cristã à Mãe de Jesus traduz-se em inúmeras invocações e nomes. No dia oito de setembro, celebrou-se a festa de Nossa Senhora Virgem da Caridade de El Cobre, padroeira nacional de Cuba. É chamada também, carinhosamente, como “la Cachita”, na linguagem popular. A Virgem é venerada em toda a ilha e especialmente no santuário de El Cobre, a poucos quilômetros da cidade de Santiago. Aos 22 de dezembro de 1977, Paulo VI elevou o santuário à categoria de basílica. Já foi visitada por três papas: João Paulo II, Bento XVI e Francisco. Uma multidão de devotos costuma afluir aos festejos anuais, na Vila de El Cobre. 

Porém, neste pandemíaco ano de 2020, por causa das restrições impostas pela peste da covid-19, poucos devotos foram admitidos. A população em geral acompanhou as celebrações festivas pelas transmissões da televisão estatal. Nos dias anteriores, os bispos diocesanos faziam orações e transmitiam instruções através das emissoras de rádio. 

Em 1999, com um grupo de professores do Inesp, participamos de um congresso pedagógico em Havana. Lá adquirimos um livro: “La Virgen de la Caridad del Cobre, Símbolo de Cubanía”. Em trezentas e trinta e oito páginas, é o resultado dos estudos e pesquisas da historiadora e professora Olga Portuondo Zúñiga, publicado pelo Instituto Cubano del Libro e Editorial Oriente, de Santiago de Cuba, em 1975. A publicação inclui numerosas ilustrações, algumas a cores, além de meticulosos anexos e notas e detalhada bibliografia. É uma obra de valor inestimável, que transita entre o histórico e o devocional. A autora revela isenção e competência científica, tanto nas áreas da sociologia e da história, como no campo da teologia.

O livro abre-se com um prólogo de dez páginas, escrito pelo professor doutor Jorge Ramón Ibarra e um pequeno prefácio da autora. Entre os muitos colaboradores a quem agradece, a autora inclui o arcebispo de Santiago, mons. Pedro Meurice, pelos seus conhecimentos e informações e por lhe ter disponibilizado documentação inédita. Olga termina seu prefácio, dizendo: “Escrever sobre esta invocação mariana quer dizer esquadrinhar nas entranhas mesmas do ‘criolo’ de ontem e do cubano de hoje, em seu sentido da vida, em sua utopia de realização. Espero que esta obra nos permita conhecer-nos melhor, para estreitar muito mais os laços da comunidade nacional”.

Fevereiro de 99 ficou inesquecível. Foi quando fizemos uma peregrinação à Basílica de El Cobre. De lá trouxemos uma pequenina imagem da Virgem da Caridade, guardada com devoção. [email protected]

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