Matando em nome do Senhor

Domingos Sávio Calixto - CREPÚSCULO DA LEI - LXXXVI

 

O caso da “pastora” flor-de-lis (em minúsculo mesmo) é um dos maiores assombros da criminologia nacional dos últimos tempos. Considerando-se que os malafaias e as damares (ainda em minúsculo) se mostram calados sobre esta aberração fática – justo eles que tanto se esmeram em criticar a ofensa ao “Senhor” perpetrada por transexuais em campanhas publicitárias no Dia dos Pais, e logo elas que canalizam seus seguidores a esbravejarem em portas de hospitais contra crianças vítimas de estupro em busca do amparo médico constitucional – eis que a organização familiar-religiosa-criminosa que planejou (e executou) o extermínio da vítima marido/genro/filho/sócio-pastor Anderson do Carmo (2019) merece algum comentário.

Em Lucas 12: 2 (Bíblia) está registrado: “Mas nada há de ser encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto que não haja de ser sabido”. Ora, “Lucas 12” é o nome da operação policial efetivada para a apuração do crime de (falso) latrocínio, ocorrido no dia 16 de junho de 2019 onde, segundo os laudos, foram mais de 30 disparos contra a vítima, uma barbárie que envolveu onze “familiares e amigos” da vítima.

Entre os indiciados estão cinco filhos do “casal” (ao todo eram cinquenta e cinco filhos) e, apurada como autora intelectual, a esposa/mãe/sogra/sócia-pastora flor-de-lis - que é amiga das michelles, que é amiga das damares (as minúsculas continuam cumprindo seu papel). Dizia flor-de-lis: “separar não posso, ia escandalizar o nome de Deus” (...). Ao centro material da motivação delituosa: o controle do dízimo, e ao centro formal: a hipocrisia biblicista. Sobre o dízimo a questão assume significativa importância tanto mais pela obscuridade e falta de transparência em movimentações via transações religiosas. Constam evidenciadas as altas cifras capitalizadas e ungidas pelos templos de aqui e acolá, bem como escusos empreendimentos financeiros bem distantes dos carentes filhos do “Senhor”. Não existe apuração alguma que demonstre claramente os caminhos percorridos pelas dádivas pecuniárias das almas em bu$ca de milagre$. Uma investigação minimamente séria apontaria seguramente um “record” de decepções.

No caso da hipocrisia, certo é que decaem notas de inglórias invocações nefastas ao nome do “Senhor”, como se “Ele” fosse conivente com as blasfêmias que insistem em povoar alguns templos da dívida, digo, da dádiva. São por demais cruéis os seres que se apoiam na “palavra” para se posicionarem como “pessoas de bem” e credores à caça daqueles que – por desgraça existencial – se apresentam com fé e pensamentos contrários ou destoantes “da palavra”. Serão caçados pela fúria do “Senhor” até mesmo por traficantes evangélicos (?).

O caso flor-de-lis (nas insistentes minúsculas) – que ainda envolve lenocínio, incesto, swing de casais e tudo mais que assustaria até as depravadas Sodoma e Gomorra – deve ser tomado como um referencial do ausente sagrado e fraterno não da vida para Deus, mas com Deus, ou seja, é tudo além dos dentes de diamante de cuja boca fogem um sorrisos que nada valem.

 Assim como a ira de Jesus recaiu sobre o templo-camelódromo de Jerusalém, eis que a religião não é um balcão de vendas de indulgências falsificadas e clandestinas, não sendo disso que Jesus falava e nem foi por isso que ele morreu. Jesus não enaltecia o dízimo, mas o amor, fartamente distribuído (de graça) em suas andanças.  Por isso ele não veio para chamar os justos, mas os pecadores, e daí (há) um recado implícito aos tais “cidadãos de bem”: apenas amem o próximo, ao menos tentem. Se for muito difícil, pelo menos não julguem (o próximo) com tantas pedras nas mãos, ou “balas perdidas”.

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