Mártir dos Trusts

Inocêncio Nóbrega    

 

Cem anos da morte de Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, a 10 de outubro.   O matutino alagoano, “Tribuna Independente”, para o qual também colaboro com meus limitados conhecimentos, na sua última edição dominical dedicou caderno especial, relembrando não só o triste episódio, mas enaltecendo os feitos do ilustre nordestino.  Pouco divulgado no restante do país, estamos a nos referir sobre um dos maiores empreendedores que já tivemos. Nascido em Ipu, Ceará, mas foi no Recife onde iniciou sua fulgurante carreira comercial, construindo o Mercado do Derby, parecido com os “shoppings” atuais, todavia sofreu incontrolável incêndio. Resolveu tentar sua sorte na Vila da Pedra, interior de Alagoas, por volta de 1903, aí criando um bem sucedido complexo industrial, que passou a ser alimentado por um “moinho de água”, que transmitia energia elétrica, usando socavão de penhasco por onde corriam águas do rio São Francisco.

Uma de suas fábricas, a de linhas de cozer Estrela, bastante aceitas no mercado interno, passou a ser temida pela marca Corrente, inglesa, que por todos meios tentou e conseguiu comprá-la. Refratário às imposições dos “trusts” (multinacionais), Delmiro terminou odiado por grupos políticos  regionais, divergentes de sua conduta nacionalista. Tinha 54 anos quando, descansando no alpendre de sua residência, no município alagoano que ora leva seu nome, foi ferido, mortalmente, por bacamartes de aluguel.

Mártir do poder econômico imperialista teria de ser se levarmos em conta os apontamentos genealógicos que o envolvem. Destacamos, de início, ser ele fruto do idílio de seu pai, Delmiro Porfírio de Farias com Leonila Flora, (Dona Moça), membro de conhecida família de Pau d’Alho-PE.  Era filha caçula de José da Cruz Gouveia e sua segunda esposa, Maria Cândida de Melo, ele revolucionário de primeira hora, estando ao lado da Revolução Pernambucana de 1817. Temendo ser preso, fugiu para os EUA, só retornando após anistiado.

Os Cruz Gouveia de Delmiro tiveram marcante atuação na economia e política paraibanas, sempre se opondo ao absolutismo de Pedro I.  A presença da família é historicamente notória numa região, em cujo município de Itabaiana, onde aconteceu o entusiasmado grito da Revolução, teria se dado o primeiro encontro entre o velho Delmiro e Leonila, cujo rebento  se tornaria uma figura emblemática no Brasil.

Neste curto espaço de tempo, o calendário marca, ainda, dia 19, a Proclamação de Parnaíba, pela Independência, em 1822. Povo, militares e autoridades estiveram juntos pela causa,  evento que é civicamente comemorado, com direito a feriado no Piauí. O reconhecimento deste comentarista.

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