Marcas do passado

À medida que o tempo passa, se estamos lúcidos, vamos estocando experiências, descobertas, frustrações. De certa forma, arrastando o passado dentro de nós. Portadores, todos nós, de influências tidas como benéficas ou maléficas, de influências positivamente pedagógicas, estimulantes, ou negativamente antipedagógicas, desestimulantes, quando não traumatizantes. Do tipo: – Você não dá pra isso! Desista para o resto da vida. Em alguns casos de superação, a pessoa se propõe provar justamente o contrário, quando encara o desafio e o vence com galhardia.

 Estocando erros e acertos, ganhos, perdas e danos, “e le angoscie di una povera ricchezza”. Dependendo de como encaramos o peso dessa memória mista de conceitos, preconceitos e emoções, podemos nos sentir paralisados por dentro, reféns do passado. Um paralítico pode estar mais centrado que uma pessoa normal fisicamente. Tudo uma questão de se encontrar, de encontrar a vida. Antigamente se usava papel-carbono, isto é, papel revestido de uma camada de carbono para tirar cópias. Hoje evoluímos. Mas vale a comparação: corremos o risco de ser cópia em carbono ou xérox de ídolos ou ícones de referência, fantoches, marionetes da mídia, da moda ou de líderes considerados carismáticos. Falar em fantoches me lembra, de Morris West, Os Fantoches de Deus (The Clowns of God), título alusivo a crianças, de uma instituição, com síndrome de Down. Seres humanos incapazes de praticar o mal.

 Lembra o jesuíta Anthony de Mello, em Caminhar sobre as Águas, que é necessário desobstruir os olhos, os ouvidos, o paladar... A mente. Tendo como resultado, ver, ouvir, saborear, ser feliz. Na tentativa de reconstruir a filosofia, Descartes começa por duvidar metodicamente de tudo. Nunca é tarde para questionamentos. Nunca é tarde para opor os sentimentos da alma aos sentimentos do mundo. Sem deixar de tomar consciência do “Sentimento do Mundo”, como na obra de Carlos Drummond de Andrade.

 

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