Manifestantes tomaram conta das ruas da cidade; ato foi contra reforma da Previdência e cortes na educação

Maria Tereza Oliveira

A educação parou ontem o país inteiro para protestar contra os cortes na pasta, anunciados pelo Governo Federal, e também contra a reforma da Previdência. Estudantes, educadores da área estadual e a municipal, além de sindicalistas se uniram em diversas manifestações durante todo o dia. Em Divinópolis, no quarteirão fechado da rua São Paulo, centenas de pessoas se uniram para protestar pacificamente contra as medidas impopulares do Governo Bolsonaro (PSL).

Um dos atos foi convocado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e em Divinópolis foi aderido pelo Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-Ute), e o Sindicato de Trabalhadores da Rede Municipal de Educação de Divinópolis (Sintemmd), que chamaram as escolas – estaduais e municipais – e universidades para participar. Além dos sindicatos da educação, o Sindicato dos Trabalhadores Municipais de Divinópolis e Região Centro-Oeste (Sintram) apoiou o movimento.

Luta pela educação

Apesar de oficialmente o ato ter começado às 15h, durante todo o dia, Divinópolis teve as ruas invadidas por manifestantes.

As estudantes de farmácia da Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ) Jéssica Otávia de Morais e Allana Alice Trindade contaram à reportagem que, junto de alunos da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) e do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet), estavam nas ruas desde as 8h.

Nos cartazes, frases como “A educação resiste” e “Aqui não tem balburdia, tem cidadania”, os alunos caminharam de rua em rua entoando letras de protestos.

Conforme Jéssica explicou, a intenção era de mostrar à população a importância das universidades para a sociedade.

— Estas instituições contribuem muito com a cidade, tanto com iniciações científicas, quanto com projetos de extensão e também na formação de cidadãos — lembrou.

Allana salientou que a população precisa conhecer as consequências que o corte trará na educação como um todo.

— O governo está propondo um corte de 32% das verbas na educação. Muitas universidades vão fechar, então temos de conscientizar todo mundo. A faculdade é importante, é um local de transformação, pluralismo e a gente precisa defender isso com unhas e dentes — defendeu.

Reforma

O ato é nacional e, conforme explicou a coordenadora adjunta de Políticas Sociais do Sind-Ute, Maria Catarina Laborê, tem como intuito mostrar a resistência da categoria em relação às mudanças propostas com a reforma da Previdência para os trabalhadores da educação. Da mesma forma está a resistência às medidas de contingência de gastos na área da educação.

A reforma da Previdência causou polêmica desde que foi proposta pela primeira vez, ainda no governo do ex-presidente Michel Temer (MDB) em 2017. Foram realizadas várias manifestações contrárias à proposta e, com o tempo, embora permanecesse como um fantasma, ficou esquecida pela população. Até que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) reacendeu as discussões ao propor uma reforma ainda mais severa.

Dentre as principais insatisfações do texto da reforma, destaca-se a obrigatoriedade da idade mínima para aposentadoria de 65 anos para os homens e 62 para mulheres.

Além disso, o aumento do tempo de contribuição, de 15 para 20 anos, e o fim das condições especiais para trabalhadores rurais e professores terem direito ao benefício também não agradaram a população.

Educação picotada

O Ministério da Educação (MEC) bloqueou, no fim de abril, uma parte do orçamento das 63 universidades e dos 38 institutos federais de ensino. O corte, conforme alega o governo, foi aplicado sobre gastos não obrigatórios, como água, luz, terceirizados, obras, equipamentos e realização de pesquisas.

Já as despesas obrigatórias, como assistência estudantil e pagamento de salários e aposentadorias, não foram afetadas. No total, considerando todas as universidades, o corte é de R$ 1,7 bilhão. 

Paralisação

Maria Catarina disse ao Agora durante o ato que a luta contra o que ela chamou de desmanche da aposentadoria precisa ser de todos e que o principal objetivo da paralisação foi panfletar.

— A greve é nacional contra a reforma da Previdência e contra esses cortes nojentos, cruéis e genocidas que estão sendo feitos na educação. Agora mais do que nunca todos precisamos estar juntos — salientou.

De acordo com a coordenadora, estes cortes são o passaporte para a destruição da educação pública.

Idiotas úteis?

O presidente, Jair Bolsonaro, comentou as manifestações em uma pausa durante viagem a Dallas. De acordo com ele, não era de sua vontade contingenciar verbas, em especial da educação, mas a medida é necessária.

Sobre os protestos, o presidente causou polêmica ao afirmar que os manifestantes são “idiotas úteis”. De acordo com ele, a maioria das pessoas nos protestos é militante.

— Não tem nada na cabeça. Se perguntar 7 x 8 não sabe. Se perguntar a fórmula da água, não sabe. Não sabe nada. São uns idiotas úteis, uns imbecis que estão sendo utilizados como massa de manobra — acusou.

Jéssica e Allana comentaram as declarações de Bolsonaro.

— Ele (Bolsonaro) quer que a gente se cale. Quer que tenhamos medo do que eles estão propondo. Só que as faculdades ensinam a gente a não ter medo de pensar, então temos de lutar pelos nossos direitos — garantiu Jéssica.

E continuou Allana:

— Se ele achar ruim, que venha conversar com a gente pessoalmente para ver o que estamos fazendo, todos os nossos projetos — propôs.

Mais protestos

Após os protestos de ontem, já estão marcadas mais manifestações contra as medidas. A próxima data está programada para dia 30.

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