Mais uma CF ecumênica

Raimundo Bechelaine

Pelo menos neste ano, fica desacreditada uma estrofe da alegre melodia composta por Jorge Ben: "em fevereiro tem carnaval", cantava ele. Porém tudo indica que, neste 2021, o "país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza", também conhecido como "o país do carnaval", não terá nem carnaval nem seus consequentes feriados. Fala-se num carnaval temporão, em meados do ano, quando a população estiver vacinada. O problema é saber quando isso ocorrerá. 

Todavia, Quarta-Feira de Cinzas, jejum e abstinência de carne, quaresma e campanha da fraternidade haverá. Com as limitações e cuidados que a situação exige, mas haverá. Na quarta-feira, as paróquias oferecerão mais horários para a tradicional celebração da imposição das cinzas, a fim de atender o maior número de penitentes. Contritos, ouviremos a voz solene do ministro: "Lembra-te que tu és pó e ao pó voltarás". Ou então: "Converte-te e crê no Evangelho".

Uma vez mais, a Campanha da Fraternidade terá um formato ecumênico, sob a responsabilidade do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic), que reúne algumas denominações mais comprometidas com o espírito evangélico. O tema será: "Fraternidade e diálogo, compromisso de amor". O lema bíblico encontra-se em Efésios 2,14: "Cristo é nossa paz, do que era dividido fez uma unidade".

O ecumenismo é um movimento religioso que visa aproximar as Igrejas cristãs e, possivelmente, conduzi-las à unidade. As origens da proposta ecumênica nasceram já no século dezessete, no campo protestante. Algumas das suas lideranças começaram a preocupar-se com a fragmentação do protestantismo, como aliás vem sucedendo até o presente.  Leibniz, um dos grandes filósofos e matemáticos alemães, publicou, em torno de 1667, uma obra em que defendia a união das Igrejas cristãs. Ao longo das décadas, outras iniciativas surgiram nesse sentido. Em 1948, em Amsterdam, fundou-se o Conselho Mundial de Igrejas. Hoje sediado em Genebra, reúne mais de trezentas denominações protestantes e ortodoxas. Inicialmente, a Igreja Católica viu o movimento com muita reserva, e só bem tardiamente  aproximou-se dele. Oficialmente isso veio a ocorrer somente na década de sessenta do século vinte, a partir do papa João XXIII e do Concílio Vaticano II.

Propondo o tema do diálogo, do respeito mútuo e fraterno  entre instituições e correntes de pensamento e de crença, o Conic faz um apelo abrangente, atual, oportuno. Abrangente, porque vai além do espaço cristão, interessa a toda a sociedade. Atual e oportuno porque estamos vivendo tempos de fundamentalismos não só religiosos, mas também políticos e ideológicos. Temos ouvido, de muitas vozes, apelos polêmicos e raivosos ao conflito, à eliminação dos divergentes,  ao ódio e até às armas. 

Eis então que é bem-vindo o convite evangélico à paz e ao diálogo, ao desarmamento dos espíritos. Enfim, à fraternidade. Abramos a ele nossos corações e mentes.   

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