MAIS QUE PALAVRAS, GRATIDÃO

 

Olá! Você já fez o bem a alguém que, depois, sequer olhou em seus olhos e agradeceu? Você já se sentiu comovido com a situação de uma pessoa, tomou a iniciativa de buscar uma forma de aplacar as suas dores, e, ao fazê-lo, nem um sussurro de ‘muito obrigado’ foi dito? O que alguém sente nesse momento? Ainda que seja altruísta e voluntarioso, um certo sentimento de desdém ou desvalorização do gesto de amor pode passar por sua cabeça. “Fazer o bem sem olhar a quem” é fácil, quando se deseja. Porém, isso não significa que as vítimas do infortúnio da vida agem corretamente, desprezando o amor desinteressado, sem retribuir com gratidão. Não me refiro apenas ao ato da verbalização. Refiro-me à expressão, que fala mais que palavras. Porque isso pode ser uma atitude de ingratidão. E ingratidão fala alto.

Muitas são as atitudes que incomodam. E a ingratidão é uma delas. A ingratidão fere e machuca mais que milhares de palavras. Porque as palavras podem ser ditas em momentos de infelicidade ou ser mal colocadas ou mal-entendidas. Ninguém é perfeito em suas palavras. Contudo, se disser muitas palavras de ofensa a alguém que ama, isso pode não ferir tanto como ser ingrato. O ingrato é alguém que se tornou incapaz de compreender sua realidade e o benefício que recebeu.

Pensando nisso, imagine uma sociedade altamente discriminatória. Uma sociedade que expele o diferente, expulsa o doente da sociedade que considera saudável, sem pensar nas feridas que pode deixar na alma desse desfavorecido da sorte. Some-se a isso o fato de que essa sociedade (que discrimina e exclui) considere uma doença em especial, que torna toda essa atitude em algo ainda mais cruel e injustificável.

Essa sociedade a que me refiro é a judaica do séc. I d.C. Por séculos, firmados em suas leis de purificação, os judeus expulsavam qualquer indivíduo contaminado com a lepra (hanseníase). A lepra era vista como a figura da maldição divina. Um leproso era excluído da sociedade por certo período de tempo, para observação da evolução da doença. Não sendo curado, poderia ser excluído para sempre do convívio social e da família. Cuidados especiais eram rigorosamente observados para que o doente não conseguisse burlar a lei.

Ser um leproso no século primeiro era sinônimo de completa impossibilidade de mudança de vida. A exclusão social era certa e sua condição de excluído era permanente. Sua sentença era a morte. Era ser, literalmente, visto como lixo (alguns eram lançados literalmente no lixo por familiares ou lançavam-se a si mesmos no Vale de Hinon).

A história bíblica registra certa ocasião em que Jesus passou pela divisa de Samaria e Galileia. E, ao longe (pois que não podiam aproximar-se), dez leprosos gritaram por Jesus e pediram-lhe a cura (Lucas 17.11-13). Jesus, cheio de compaixão, deu-lhes a ordem de cura e afirmou que a cura chegaria enquanto caminhavam em direção ao sacerdote de sua cidade. Percebendo que foram, de fato, curados (como dissera Jesus), nove foram celebrar a cura e buscar sua família. Apenas um foi capaz de ser grato, e voltou a Jesus. Pelo que Jesus perguntou: “Não eram dez os que foram curados? Onde estão os outros nove?” (Lucas 17.17).

Embora seja a história de um homem grato, a atitude que fala mais que palavras aqui é ‘ingratidão’. Nove dos dez homens receberam a oportunidade de voltar ao convívio social, participar novamente da vida cotidiana, ser aceitos ao invés de julgados, de viver novamente. Tudo isso veio porque Jesus os amou e libertou das cadeias da discriminação e exclusão.

A lepra é uma enfermidade que, dentre outros sintomas, causa a diminuição na sensibilidade. O que leva o portador da enfermidade a adquirir ferimentos no corpo sem perceber, visto que não sentem dor.

 Ingratidão é um tipo de lepra emocional. É uma espécie de insensibilidade diante do amor e favor recebidos, que o indivíduo tende a produzir em sua imagem as marcas da insensibilidade, que, de tão expostas, repelem aos que se aproximam.

A ingratidão é a alma sob o controle da indiferença, o que faz do ingrato sua própria maldição.

Será que você é capaz de ser grato a Deus por viver hoje? Capaz de ser grato por ter uma vida social? Grato por não ser excluído do convívio da família e dos amigos? Grato por ser aceito? Ou você é um ingrato de alma, limpo por fora, mas insensível por dentro?

 

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