MAIS QUE PALAVRAS - SUBMERGIR

Olá! Nem todas as pessoas enxergam o mar de uma mesma forma. Isso pode ter muito a ver com a relação estabelecida de convivência com ele. Sou um apaixonado pelo mar. Gosto de ficar olhando para aquela infinitude de águas, ver as ondas quebrando uma após outra, como se houvesse uma ordem determinada para cada lance. Estar na praia me acalma. Coloco meus pés enfiados na areia e relaxo. É muito bom!

Os mergulhadores vivem uma experiência especial com os oceanos. Podem contemplar o mundo submarino com seu caleidoscópio de cores e sua variedade de vida incrível. Outros podem ver o mar como um meio de sobrevivência, como um prazer necessário. Cada um tem sua própria experiência com o mar. Contudo, acredito que algo em comum todos podemos compartilhar: não é inteligente tentar enfrentar o mar ou desrespeitar sua força.

Certa vez, ouvi um pescador dizer: “Se você não respeita o mar, o mar não se responsabiliza por você”. Isso é verdade! Não tente enfrentar a força das águas.

O mar é uma figura que imprime no homem um temor tão grande que se tornou um arquétipo para lutas e violência que a vida pode proporcionar. Também, um tipo de força das adversidades causadas pelo mal. Isso remonta à história da própria humanidade. No imaginário coletivo da humanidade, por séculos (até mesmo hoje), uma máxima permanece: “Não enfrente o desconhecido!”.

O que dizer de andar sobre o mar? Isso é simplesmente impossível! Navegar sobre ele exige experiência e respeito. Andar sobre ele? Loucura! Imaginação!

Embora seja necessária fé para acreditar nos relatos da Bíblia, e “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hebreus 11.6), é pela fé que aceitamos seus relatos (Hebreus 11.1). Isso se fez no extenso Mar da Galileia.

Segundo o testemunho de alguns discípulos de Jesus de Nazaré, em uma noite, enquanto navegavam, Jesus veio até a embarcação em que estavam. Ele vinha caminhando sobre as águas (Mateus 14.25). Era como uma visão estarrecedora, apavorante, a ponto de imaginarem estar vendo não um homem, mas tendo uma visão fantasmagórica. Afinal, homem não anda sobre as águas. É fisicamente impossível. Cientificamente inexplicável. Mas creio sem temer as críticas que Jesus andou, realmente, sobre o mar.

No mesmo relato do apóstolo Mateus, Pedro desejou viver essa experiência. Queria provas do poder de Jesus sobre o impossível. E, autorizado por Jesus, Pedro andou sobre as águas. Porém, não se mantendo em contínua confiança, duvidando, começou a afundar. Não tendo outra escolha que não a de gritar: “Senhor, salva-me!” (Mateus 14.30).

Não desejo ater-me às possibilidades comprobatórias do ocorrido. Mas quero apontar o princípio contido no relato. Não vejo a Bíblia como um livro que conta histórias fictícias. Vejo-a como um livro que fala de princípios e valores.

Especialmente, desejo retirar uma reflexão para hoje, desse ocorrido. Jesus, ao andar sobre as águas, não busca demonstrar seu poder sobre as leis da física. O Senhor busca mostrar seu poder sobre nossos medos e temores do desconhecido. Desafiando as leis naturais, Jesus demonstrou seu poder sobre as leis sobrenaturais. O arquétipo do mar como algo a ser temido, devido à sua força ou, simplesmente, por ser desconhecido é, também, o arquétipo da força e poder do desconhecido mundo espiritual. Da mesma forma que o mar pode ser destrutivo, violento e amedrontador, assim também o mundo espiritual pode ser amedrontador, violento e altamente destrutivo.

Ao andar sobre o mar, Jesus demonstra seu domínio. Ele põe o mar sob seus pés. Ele o controla e domina. Ele está no controle. Pedro aparece como a figura do homem, desejoso de replicar o que somente Deus pode fazer. Confiando na sua capacidade de vencer o invencível, vai até Jesus. Porém, descobre a cada passo sobre o inconstante lugar que pisa que não é coisa para o homem natural o que desejou. Então, tomado por seu instinto natural, faz a coisa mais inteligente: pede socorro a Jesus.

É interessante observar que Pedro não ficou conhecido nesse relato como um covarde e amedrontado homem que não foi até o fim de seu objetivo. Antes, entrou para história como alguém que andou sobre as águas (à semelhança de Cristo) e, quando temeu, recorreu à pessoa certa, na hora certa.

Não é vergonhoso descobrir limitações. Não é humilhante perceber que há um campo da vida sobre o qual não temos controle. Não é um vexame submergir em situações que se tornam mais fortes que toda nossa experiência e força. Não é estranho vivenciar situações assim. Na realidade, somente os corajosos, capazes de enfrentar a vida de peito aberto, vivem situações como essas. A coragem de Pedro o colocou em risco. Mas foi ela que lhe deu a oportunidade de experimentar o que nenhum outro homem experimentou.

O que uma pessoa que enfrenta a vida com coragem não pode se esquecer é que o ser humano possui limites, e onde começa seu limite inicia sua dependência de Deus. Se você teve coragem para enfrentar o mar, tenha coragem, nos momentos difíceis, para pedir ajuda ao Senhor Deus.

 

 

Israel Leocádio da Silva

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