MAIS QUE PALAVRAS - ‘RABI’

 

Olá! Nesta semana que passou, o dia do professor foi lembrado (mesmo em atraso, quero parabenizar a todos). Sou professor, sei bem o que significa nossa vocação quase que sacerdotal em nossos dias: falta de apoio; falta de reconhecimento generalizado (pais, alunos, poder público, instituições de ensino etc.) e, como se não bastasse, ainda falta a valorização. Igualmente em toda amplitude do sentido do termo. Esse conjunto da obra faz-nos sentir menores.

Quero lembrar algo que considero importante pontuar, visto que me traz conforto e pode confortar outros. Diz respeito a Jesus, que creio ser o Cristo de Deus (juntamente com milhões de pessoas, em todo o mundo). Homem extraordinário! Ainda que não seja Ele a figura reconhecida religiosamente para muitos; não seja o Filho de Deus para outros; não seja o personagem histórico que a fé cristã prega, segundo outros; isso não anula sua importância e relevância. Basta lembrar que sua vida dividiu as eras. A história do homem divide-se em antes dele (a.C.) e depois dele (d.C.). Não se pode negar isso!

Agora, veja: sendo alguém de tão alto valor na história da humanidade, você já se perguntou como Jesus de Nazaré era identificado em sua época? O Nazareno foi chamado de Rabi (em caracteres hebraicos  רַבִּי - Rabbi). A maioria de nós desconhece o fato de que Jesus não era chamado sacerdote (embora o sacerdócio fosse reconhecido em seu ministério). Tampouco foi chamado de pastor (embora identificado como o sendo o Supremo Pastor). Também, não foi chamado, nas ruas, de pregador ou evangelizador. Mas, reconhecido como Rabi, que, traduzido de forma simples, é Mestre. Jesus foi Mestre! Que honra para o ofício! Talvez isso confirme o sentimento de sacerdócio presente no dom do ensino, mesmo sem a devida honra. Quem é mestre o é por sacrifício de amor.

Alguns detalhes estão presentes nesse termo hebreu. A palavra hoje utilizada para o equivalente Rabi, no judaísmo, é Rabino (salvo sua pequena distinção). O termo carrega a raiz ‘rav’, que literalmente significa ‘grande’ ou ‘distinto em conhecimento’. A professora de Karla Damasceno nos informa que Jesus foi o primeiro judeu a ser chamado de Rabi. Essa afirmação aparece na Bíblia, na citação do próprio Jesus, ao dizer: Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo” (Mateus 23.10). E, não se espante, é de uma riqueza de sentido tão grande que merece atenção.

A palavra hebraica traz consigo (como é natural à língua hebraica), um leque de outras palavras em sua raiz. E todas importantes para o sentido da ideia de ‘mestre’. Cito algumas:

1º - Rabi traz a raiz ‘riv’ (capitão, comandante). É para tristeza nossa afirmar que este é um dos sentidos perdidos da palavra ‘mestre’ nas escolas. Um professor deveria ter o respeito devido a um comandante. Pois é ele o condutor e detentor da autoridade. Pois, o professor é alguém superior a nós, no saber. Um chefe. Um, no comando. Não é assim que veem os alunos e (infelizmente) alguns pais, a figura do mestre, não tendo qualquer respeito por essa tão alta patente – a de mentor do saber.

 2º - Rabi traz a raiz ‘rav’ (bravo, valente). Outra qualidade que se pode atribuir a um mestre por vocação. Um mestre é valente, não se acovarda diante dos desafios da árdua vocação. É bravo (não no sentido de destemperado, furioso), mas no sentido de um espírito valente e determinado a alcançar seu objetivo de ensinar, fazer discípulos. Alguém que deixa no outro, de maneira forte, a marca do seu próprio saber.

3º - Rabi traz a raiz ‘rev’ (multiplicar). O mestre é um multiplicador. Como um semeador, que lança sua variedade de sementes e forma uma floresta; como um multiplicador de sabedoria. Um verdadeiro replicador de si mesmo.

4º - Rabi traz a raiz ‘ravivin’ (chuvas abundantes). Um mestre é aquele que traz consigo o que é essencial para o crescimento da semente do saber em um campo seco do conhecimento – a chuva. Ele rega, mata a sede, alimenta a raiz, torna o mundo ao seu redor com mais vida.

Como é rica a função de um mestre! Como é nobre! Por isso, os seguidores de seus mestres são chamados, em hebraico: talmidim (empoeirados). Porque andavam tão próximos de seus mestres, por saber que eram fontes para matar sua sede do conhecimento, que a poeira levantada pelos pés do mestre (por estarem os discípulos tão perto) sujava-os todos.

Outro detalhe é igualmente relevante: A terminação ‘i’ (rabi) dá à palavra o sentido de ‘identificação pessoal’, ou melhor, o sentido de ‘meu’. Assim como na cruz Jesus disse: ‘Eli, Eli...’, que traduzido é ‘Deus meu, Deus meu’, assim ocorre com a palavra Rabi, ‘meu grande e distinto mestre’. Isso é o que difere do termo rabino, que possui a terminação ‘ino’ (rabino), que dá o sentido de coletividade: ‘nosso’. Então, rabino é ‘nosso mestre’ (deixo meu apreço e respeito a todos os rabinos).

O que essa diferença da terminação da palavra me oferta é a ideia de que escolhemos nossos mestres. Talvez por nossa vocação. Talvez pela identificação com o seu saber. Não sei! O que sei é que ao escolher o ‘meu mestre’ (Rabi), identifico-me com ele também. Pois que, o saber é ministrado por alguém. E, esse alguém deixa, junto com o seu saber, a própria alma.

Deixo aqui meu respeito e admiração a todos os mestres, que deixam sua alma e conhecimento marcar positivamente o outro. Mas, em especial, fica meu respeito, admiração e louvor ao ‘meu Mestre’ (Rabi), Jesus de Nazaré. Aquele que ofertou a todos o saber de Deus; que é meu comandante; que mata minha sede; que é forte e determinado. E, como se não bastasse, deu sua própria vida por seu objetivo!

 

Dedico este texto ao meu Mestre Jesus.

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