Mais que palavras - ‘Mosquito’

Olá! Não sei se minha leitura do tempo em que vivemos é totalmente correta. Mas é minha leitura! Ainda que errada, é o que vejo. E, naquilo que vejo, observo que vivo em um mundo de pessoas distraídas. Talvez possa classificar “distração” como sinônimo de “conectado”. As pessoas estão conectadas o tempo inteiro. Estar atualizado quanto às informações, sobre tudo e sobre todos, é uma exigência diária. Na geração hi tech todos precisam permanecer conectados. Com seus celulares nas mãos, a humanidade está “ligada”! Mesmo nos lugares e em momentos em que não deveriam, como na direção de um veículo, pilotando uma motocicleta, atravessando uma rua movimentada, fazendo compras, acompanhadas de amigos. Em todo tempo. Em todo lugar. Em qualquer situação. Todos estão conectados. Ou seria, distraídos?

Uma pessoa, do seu quarto, sabe o que ocorre no mundo, enquanto conversa com um amigo em outra cidade. Em tempo real, todos os conectados mantêm-se informados sobre o mundo exterior. Ao passo que não sabem o que ocorre no quarto ao lado. O pai não sabe das crises emocionais e necessidades afetivas de seu filho. A mãe desconhece que o filho chega tarde. O filho não percebe que os pais estão se distanciando dia após dia, e a separação parece inevitável. O irmão desconhece os planos de suicídio do outro irmão. A irmã não sabe que as drogas são prioridade para o irmão. Enquanto o virtual acontece apresentando um mundo perfeito, em selfies com pessoas sorridentes e se divertindo, o mundo real pode ser um caos.

Isso não é exclusividade de nosso tempo. Isso é humano. Isso é um comportamento vicioso. Ocorre hoje. Ocorreu séculos atrás. O homem é capaz de dar atenção aos detalhes menos importantes da vida e desprezar os mais importantes. Enquanto observa o que chama sua atenção, perde a própria razão da vida. O homem sempre se “conecta” a algo menor, enquanto perde algo de maior valor.

Jesus percebeu essa nossa capacidade de distração em seu tempo. Nos dias de Jesus, a economia era dependente da mão de obra praticamente artesanal. Todo produto era dependente das mãos habilidosas do homem. A economia dependia disso. Entre os itens de grande importância econômica estava o vinho. Sempre presente à mesa de um judeu. Vezes para alegrar uma festa, vezes usado sem moderação. Em outras ocasiões, até mesmo como um fim medicamentoso.

Para a produção desse precioso néctar, os judeus usavam mão de obra artesanal. As uvas eram colocadas em um lagar (geralmente, um buraco aberto no solo rochoso), onde os trabalhadores pisavam as uvas, extraindo delas o suco, que escorria por pequenas valetas (também abertas no solo rochoso), até um buraco ainda maior que o primeiro, onde o suco era peneirado cuidadosamente, antes de ser colocado em um jarro ou odre (recipiente feito de couro). A atenção era total por parte dos trabalhadores, pois um só momento de distração poderia colocar todo o produto em risco. Principalmente no último estágio, antes de colocar em odres. Ali, a atenção era maior. Porque o cheiro doce do suco atraía moscas e outros insetos. E se um deles caísse no vinho e fosse colocado em um odre, todo o vinho estaria comprometido. A atenção era total! Poderia acontecer qualquer coisa ao redor do atento trabalhador com sua peneira, que nada tiraria sua atenção. Seus olhos buscavam evitar os mosquitos e pronto! Se alguém fosse roubado ou uma caravana passasse com seus camelos carregados, nada disso tiraria a atenção do cuidadoso trabalhador. Observando uma cena dessas, Jesus disse: “vocês coam um mosquito e engolem um camelo” (Mateus 23.24).

Essa palavra de Jesus estaria desatualizada? Hoje é diferente? As coisas mudaram com o moderno sistema industrial? As máquinas mudaram as coisas? Passamos a olhar melhor o principal enquanto a tecnologia cuida do resto? Infelizmente, não! Nada mudou! Ainda olhamos mais o mosquito que pode estragar nossas economias, que os camelos que podem nos matar. Ainda nos preocupamos com dinheiro e não com as pessoas. Ainda amamos as coisas e usamos pessoas. Enquanto a vida passa ao nosso redor, nosso olhar está fixo em uma pequena tela acesa em nossas mãos. Nós nos importamos mais com as imagens e menos com o calor humano. Ainda nos preocupamos com mosquitos e perdemos filhos, família e as pessoas que realmente importam. Pense nisso!

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