Machado de Assis
João Carlos Ramos
Machado de Assis
Joaquim Maria Machado de Assis (21/06/1839 - Rio de Janeiro/RJ - 29/09/1908 - Rio de Janeiro/RJ), indubitavelmente, foi o maior escritor brasileiro e, na opinião do famoso crítico norte americano Harold Bloom, o maior escritor negro de todos os tempos. O grande gênio de Machado fez dele um escritor polivalente, tendo publicado obras de poesia, romance, crônica, teatro, conto, crítica literária etc.
Foi fundador da Academia Brasileira de Letras e seu primeiro presidente. Pai do realismo brasileiro, seu nome desfila ao lado do português Eça de Queiroz, outro grande vulto, pertencente também à escola do realismo.
Nascido no morro do livramento, de uma família pobre, mal estudou em escolas públicas e nunca frequentou a universidade. Aprendeu o francês com um padeiro e se tornou autodidata, frequentando a famosa livraria de Francisco de Paula Brito. Foi incentivado e auxiliado pelo escritor Manuel Antônio de Almeida, autor do clássico “Memórias de um sargento de milícias”. Como todo gênio, Machado estava acima de seu tempo e sua obra viria a influenciar nosso século como se estivesse vivo. Seu primeiro livro publicado foi uma tradução do francês: "Queda que as mulheres têm para os tolos”, Victor Hénaux. A seguir, publicou obras de grande sucesso, culminando com sua obra-prima, “Memórias póstumas de Brás Cubas”.
O Partido Liberal do império lançou seu nome como candidato a deputado, mas ele rejeitou, alegando que queria apenas se comprometer com a literatura. Amigo do famoso escritor José de Alencar, dele recebendo uma carta de apresentação, a respeito do poeta Castro Alves, recém-chegado da Bahia, ele começa dizendo: "Recebi ontem a visita de um poeta. O Rio de Janeiro não o conhece, mas em breve o conhecerá o Brasil…”. Machado de Assis responde: "...Tem um belo futuro diante de si. Venha desde já alistar-se nas fileiras dos que devem trabalhar para restaurar o império das musas. O fim é nobre, a necessidade é evidente, mas o sucesso coroará a obra? Contra a conspiração da indiferença, tem V. Ex. um aliado invencível: é a conspiração da posteridade".
Segue o famoso soneto de despedida de Machado de Assis à sua esposa morta:
À Carolina
Querida, ao pé do leito derradeiro
em que descansas desta longa vida
Aqui venho e virei, pobre querida.
Trazer-te o coração de companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
que a despeito de toda humana lida
fez a nossa existência apetecida
e num recanto pôs o mundo inteiro.
Trago-te flores, ‒ restos arrancados
da terra que nos viu passar unidos
e ora mortos, nos deixa separados.
Que eu, se tenho nos olhos malferidos
pensamentos da vida formulados.
são pensamentos idos e vividos.